Um Olhar Crônico Esportivo

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quinta-feira, agosto 31, 2006

Fora do mundo... esportivo

Já escrevi no Um Olhar Crônico sobre o estar fora do mundo. Coisa que, inegavelmente, tem lá suas vantagens. Mormente num mundo povoado por lullas da Silva em profusão, pcc, governo israelense, economia chinesa, governo George Walker et caterva.

Não cheguei a ficar fora do mundo esportivo. É impossível e sobre isso escreverei logo mais, infelizmente sem fotografias, pois o futebol é paixão forte e dominante em toda parte, tal como os genes que transmitem o castanho básico de nossos olhos. Genética elementar, alguém recorda?

Esse final de agosto foi, está sendo ainda, pois vai terminar em algumas horas, meio maluco. Transferências e boatos se sucedendo em velocidade vertiginosa, tanto cá como além-mar. Mais lá do que cá, verdade seja dita.

Não gosto de dar murro em ponta de faca. Já gostei. Aprendi, entretanto, que muito machuca e nada resolve. Convém envolver a faca com grossas luvas de couro, ou mancheias de panos e trapos, e com jeito e arte, mais arte do que jeito, tirar a faca de onde está, descansa-la o mais longe possível e, só então, esmurrar a ponta que não mais existe. Pode não surtir efeito, o que é outra história, mas, ao menos, não ferirá a mão que esmurra. E que, infelizmente, calha de ser a nossa.

A ponta de faca que ora incomoda gregos e troianos tupiniquins é o futebol europeu. O rico futebol europeu. O “eurotizado” futebol europeu versus o “realtizado” futebol tupiniquim.

Já que como cronista pobre caí nessa tolice de “eurotizado”, permanecerei nela. Essa “palavra” é muito próxima de “erotizado”, o que vem a ter suas vantagens para esse pretensioso texto. Entre o real e o erotizado, a preferência humana se volta toda pelo erotizado, com suas promessas de sonhos e prazeres indizíveis. É normal que assim seja, é humano. Qualquer humano que nunca participou da produção de uma super-playmate, é um iludido. Quem participou continua sendo iludido, porque nada melhor que acreditar na promessa falsa, sempre muito mais atraente que a realidade pobre.

O “eurotizado” futebol europeu não chega a ser uma promessa falsa. Ele, na verdade, atrai por sua realidade movida a bons ganhos financeiros, capazes de permitir uma boa realidade nessa terra do real. Mesmo que seja a Europa turca ou grega ou ucraniana ou russa. Ou a Europa da 2ª divisão portuguesa, por exemplo. Os magos da economia – todos mágicos, pois conseguem ganhar dinheiro com o ininteligível – podem explicar melhor o porque dessas coisas, eu não.

A promessa de dinheiro & fama, os grandes motores do mundo (o sexo vem a reboque de um ou outro ou, ainda melhor, de ambos combinados), atrai as pessoas como o mel atrai as moscas. Entre jogar num time brasileiro, com salário tupiniquim e um mês mais tupiniquim ainda, que costuma durar 60, 90 e até mais dias, a boleirada quer mesmo é se mandar pras terras d’Europa e algumas d’Ásia. É um movimento impossível de ser parado e que só permite um relativo aproveitamento de sua energia, algo como o judoca que se utiliza da energia do adversário e a reverte, vencendo a luta. Nesse caso, não venceremos, mas poderemos tirar nossas casquinhas. Quem souber tirar casquinhas, quem, para isso, tiver suficiente engenho e arte.

Edílson foi para o Nagoya Grampus.

Diego Tardelli vai para o PSV.

Alecssandro, que ia para o Bétis, acabou indo para o Benfica, pois o Bétis preferiu pegar Rafael Sóbis que já tinha suas malas ancoradas em Santander, que fica, por sua vez, a chupar o dedo.

Jogadores menores, sem maior expressão, que nenhuma falta farão, um por ser velho e ultrapassado, em final de carreira que nunca primou pela regularidade. Os outros dois por serem fracos, um tecnicamente, o outro de cabeça.

No Rio de Janeiro chiadeira intensa e ruidosa, pois duas possíveis jóias de alguma coroa deixam terras e águas cariocas e embarcam para a Rússia. Deixam, em seu lugar, a sobrevivência de um clube, de um time. A torcida acha pouco ou não entende o tamanho do buraco e reclama, protesta, picha, xinga. Bobagem, há que se tentar tirar algum proveito disso. Em tese, jogadores vêm e vão, enquanto a instituição fica. Muitos torcedores parecem preferir que os jogadores fiquem e a instituição desapareça. Se não fosse trágico e nada cômico, diria ser isso uma questão de gosto. Gosto estragado. Gosto mal acostumado.

Vivemos num país em que para tudo se dá um jeito. Esse jeito que a tudo se dá tem preço, detalhe de somenos importância que não interessa aos participantes da busca do jeito, do jeitinho. Temos, no momento, um bom exemplo disso. A poderosa Petrobrás, orgulho de milhões de tupinambás e tupiniquins, tem um rombo gigante em seu generoso e maravilhoso fundo de pensão. O rombo será coberto pela empresa, mais que generosamente, sem a participação de seus beneficiários, é claro, pois a estes só o benefício interessa. Contribuir para ele, jamais. Portanto, em breve o povo tupiniquim estará pagando nas bombas de gasolina, álcool e diesel, e também GNV, pelas benesses do petrobrasileiro, uma categoria à parte do povo tupiniquim, mais igual que os iguais. É o jeitinho, sempre pago pelo povo sem jeito e sem futuro que habita essa Terra de Vera Cruz.

É esse jeitinho que muitas torcidas estão esperando. É esse jeitinho que tudo quanto é torcedor almeja. Uma penada que elimine as dívidas. Outra penada que injete dinheiro. E vida que segue, todos felizes.

Lamento informar, mas esse tempo acabou ou está em vias de.

Salvo acidente de percurso, e espero que não haja, não teremos mais jeitos e jeitinhos.

Cada clube, cada time, terá que buscar em si próprio (instituição + estrutura + torcida) as chaves para sua sobrevivência e prosperidade. Fora disso não há, não haverá e não pode e tampouco poderá haver saída. Triste, sem dúvida, mas é a vida, é a realidade dos fatos.

Chora-se, em proveito próprio futuro, a ausência de times de grandes torcidas na primeira divisão. É, pode ser lamentável, mas foram esses times e essas torcidas que buscaram e conseguiram isso. A reversão é possível, mas à custa de muito trabalho e inteligência. Com transparência e honestidade.

E aí o bicho pega. Transparência, trabalho e honestidade são outsiders no mundo do futebol tupiniquim. Seus poucos praticantes são tachados de tudo, menos de exemplares.

E assim volto de minha viagem, volto de meus dois dias fora do mundo, mas nem tanto do mundo esportivo.

Nada mudou e tão cedo nada mudará. E é possível, é provável, que perdas traumáticas aconteçam antes que um efetivo processo de mudança tenha início e transforme nosso circo sagrado, o futebol.

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2 Comments:

  • At 3:39 PM, Anonymous Anônimo said…

    Concordo, concordo, concordo...

    Só nao aprecio empresarios...

    O mundo capitalista do futebol poderia sobreviver sem eles...

    Viu só o Juan Figger agora?

    Pois é...

     
  • At 4:34 PM, Blogger Emerson said…

    Hummmmmmmmmmm...

    Justamente por estar o futebol inserido tão bem no mundo capitalista é que os empresários acabam tornando-se necessários.

    Entretanto, há muita diferença entre o bonito papel teórico reservado a eles e a prática do dia-a-dia.

    E é aí que o bicho pega.

     

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