Um Olhar Crônico Esportivo

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domingo, outubro 01, 2006

TimeMania, contenção, apoio, dirigentes...


Assisti a uma entrevista com os presidentes do Flamengo e Fluminense falando sobre a TimeMania. Estão esperançosos, acreditando que conseguirão colocar seus clubes em ordem e iniciar uma nova fase em suas vidas. Tomara que sim, mas será difícil.

Segundo Marcio Braga, presidente do Flamengo, a adesão à TimeMania implicará, é claro, no reconhecimento – e aceitação – das dívidas existentes. Isso já era sabido. Ao reconhecer a dívida, o devedor fica prejudicado em eventuais disputas futuras a respeito, pois não poderá contestar os valores referentes a multas e juros. Se doravante tudo correr bem, ótimo, mas no caso de contratempo, o acordo passa a ser péssimo para o clube.

O valor consolidado das dividas – digamos, 180 milhões – será dividido em 180 parcelas, uma por mês. No caso desse exemplo, teríamos parcelas de 1 milhão de reais por mês. Mês a mês esse valor será comparado com o total arrecadado pela loteria. Se a parcela a receber for menor, digamos, 400.000 reais, o clube deverá pagar a diferença para o valor combinado. Caso o valor a receber seja maior, o clube receberá a diferença.

Na prática, na vida real, os clubes devedores passarão a ter dois encargos que hoje têm, mas não cumprem: pagar a dívida existente e pagar os impostos correntes. Em dia.

Será difícil. Será muito difícil. Eu estava desinformado, acreditando que os impostos velhos seriam pagos apenas com a renda da loteria, mas a mudança feita pela oposição no projeto da TimeMania alterou radicalmente o projeto. Se antes ele já era pró-governo, passou a ser muito mais. Ao que consta, tanto o Flamengo como o Fluminense não pagam seus impostos correntes, apesar do que dizem os dirigentes. Ou não dizem, omitindo a real situação dos clubes.

Outro ponto importante que os dois presidentes colocaram foi a possibilidade do dirigente de um clube vir a ser preso. Isso poderá acontecer porque, assinando um acordo desse tipo com o governo federal, o dirigente poderá ser enquadrado em crime de responsabilidade fiscal. É a primeira vez que isso acontece. É uma medida importante, com possíveis impactos em futuras administrações e eleições. E “apetites” por cargos de direção.

Roberto Horcades, presidente do Fluminense, foi claro: o clube terá de fazer um grande esforço no sentido de reduzir drasticamente suas despesas e conseguir cumprir suas obrigações. E Marcio Braga deixou claro que os esportes olímpicos terão de lutar e arrumar recursos para sua própria manutenção. O futebol se sustenta e deixa resultado positivo, mas a nova realidade que será imposta pelo acordo não vai permitir que áreas deficitárias sejam mantidas no clube.

Tempos difíceis à frente.


E a torcida?


Em política, diz-se que um pacto nacional, um grande acordo para mudar uma realidade, só pode ter êxito se contar com o apoio da população.

A tarefa a que se propõem alguns dos grandes clubes brasileiros não é muito diferente de um pacto. Aliás, acho mesmo que é muito semelhante.

Todo pacto começa pelo mais difícil, ou seja, a aceitação de sacrifícios momentâneos pela população. É a partir dessa fase que a casa é colocada em ordem e preparada para novos e bons tempos. Foi assim na Espanha, por exemplo, após a queda do regime franquista e a subida do PSOE de Felipe Gonzáles ao poder.

Os clubes que vão entrar na TimeMania para tentar recompor suas dívidas e suas vidas, pagando as primeiras e viabilizando as segundas, precisarão da compreensão e, sobretudo, do apoio de suas torcidas. Um apoio decidido, traduzido em tranqüilidade para trabalhar com times que não estarão no nível dos times sonhados pelos torcedores. Traduzido em presença nos estádios, incentivando os jogadores, evitando vaias e perseguições a um ou outro.

Com pacto será difícil. Sem pacto, não acredito.

Até agora não vi essa questão ser discutida por ninguém. TimeMania continua a ser uma desconhecida, com os torcedores acreditando que ela, por si só, resolverá tudo. Eu já cheguei a pensar nisso por breves momentos, há muito tempo. Mas não será assim, a TimeMania será apenas parte de um processo que, necessariamente, deverá envolver direções, equipes, funcionários e torcedores, além da compreensão de todo o processo por parte da mídia. Creio que a parte mais difícil, improvável até, será o apoio aos dirigentes. O problema é que eles – todos eles – são vistos ora como bandidos, ora como incompetentes, ora como bandidos incompetentes.

São? São todos?

Não sei. A verdade é que nesse momento um valor mais alto se alevanta e se impõe: a salvação dos clubes. E ela, gostem ou não torcedores e mídia, terá de ser feita pelos dirigentes que existem hoje.

Enfim, tempos difíceis à frente para alguns grandes clubes.


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