Antídoto ou Vacina?
Pediria à meia-dúzia de três ou quatro leitores desse blog que pensassem a respeito de uma perguntinha simples: o que vocês preferem? Um antídoto ou uma vacina?
Antídoto: adj.s.m. – que ou o que combate os efeitos de uma toxina ou veneno.
Vacina: s.f. – substância introduzida num organismo com a finalidade de criar anticorpos contra determinado agente infectante; programa destinado a impedir a contaminação de computadores por vírus.
Antídoto e vacina num blog que se pretende futebolístico? O que tem a ver?
Tudo. Ou nada. Uma ou outra será verdadeira, dependendo do clube.
Um texto do Lédio no Jogo Aberto sobre “treinadores-bumerangue” chamou minha atenção hoje e lembrei-me desse texto “engavetado” sobre quase a mesma coisa.
Por que um clube troca de técnico uma, duas, três até quatro ou mais vezes no mesmo campeonato? Porque está perdendo, porque sua posição na tabela é ruim, tendendo a piorar mais e mais. Porque está num viés de baixa e quer mudar para um viés de alta, pegando emprestado o jargão do mercado financeiro. As derrotas seguidas, quebradas por um ou outro empate, jogadores apáticos em campo, embora palradores fora dele, torcida há muito já passada da fase “descontente” para a fase “agressiva”, conselheiros, diretores e corneteiros diversos em alto grau de paroxismo, tudo isso é um veneno, uma infecção que acomete o organismo que deveria ser sadio, brilhante e vencedor, fazendo dele um pobre trapo, gato e sapato de outros organismos, esses, sim, sadios, brilhantes (ou nem tanto) e vencedores.
E como reage a diretoria diante de quadro clinico tão grave? Procura por um antídoto, a substância que, ingerida, vai reforçar a defesa do organismo contra os ataques inimigos, vai estabilizar seu meio-campo, suas operações vitais, e vai, aleluia, dar força e munição para seus atacantes, os anticorpos, detonarem as defesas inimigas. Pelo que se vê nos filmes, um antídoto é uma coisa mágica, rápida, eficiente, perfeita, que funciona às mil maravilhas na base do zás-trás, ou do vapt-vupt. É administrar e correr pro abraço e o happy end que alegra corações sofredores.
Um dos antídotos mais populares do mercado, usado para combater quase tudo, de unha encravada a úlcera perfurada, atende pelo nome de Joel Santana. No momento, indisponível, está fora do mercado. Há muitos outros. Há, inclusive, grandes treinadores que nunca foram antídoto, ou o foram há muito tempo atrás, e que de repente voltam a fazer esse papel em grandes organismos, tidos como livres do risco de adoecerem ao ponto de precisar de um antídoto. É o caso do popular Leão.
Antídotos costumam funcionar. Mas há importantes pré-requisitos que precisam ser obedecidos, tais como:
- administrar no tempo certo; se for aplicado muito tarde não tem efeito;
- escolher e usar o antídoto certo; como são muitos e variados, esse item se reveste de especial importância; certos organismos dão-se melhor com um ou outro antídoto, e podem rejeitar severamente outros;
- dose do antídoto: o ideal é que ele funcione com dose baixa; se excessiva, vicia o organismo; ou envenena de vez, um risco muito grande; comenta-se no mercado que o antídoto Helio dos Anjos está se tornando venenoso mesmo em dose baixa;
- potência: parece a mesma coisa que dose, mas é diferente; o antídoto Leão, por exemplo, é muito potente, tanto que, mesmo em pequenas doses, costuma provocar fortes reações alérgicas e, pior, rejeições; o antídoto 00 – ou Osvaldo Oliveira – é muito fraco; usado em alta ou baixa dosagem tem se mostrado inócuo;
- freqüência de uso: na medicina, inclusive a veterinária, o ideal é nunca precisar tratar a mesma doença mais de uma vez; nunca, portanto, recorrer aos antídotos a cada estação ou várias vezes numa mesma estação; é mortífero; já são muitos os casos registrados de organismos viciados, alguns já em fase terminal;
- resistência: tem a ver um pouco com tudo que foi mostrado antes; tal como os antibióticos que, quando ingeridos em excesso acabam provocando a criação de cepas microbianas resistentes aos seus princípios ativos; o mesmo ocorre com os antídotos, contra os quais alguns organismos começam a mostrar uma resistência orgânica.
Portanto, antídoto é bom e salva a vida e a pátria, mas deve ser usado em último caso e com muita moderação.
Muito melhor é usar a vacina. Organismos vacinados são mais resistentes, mais saudáveis, mais produtivos e eficientes. Diante de situações complexas, costumam apresentar melhor comportamento e resultado que os não vacinados.
Vacinas muito raramente, quase nunca, apresentam contra-indicações, até porque são bem testadas antes, sob as mais diferentes condições de pressão e temperatura, assim como de geografia, finanças e outros quesitos igualmente importantes.
E o que é vacina no futebol?
É uma vacina tríplice, na verdade, que contém os seguintes princípios ativos:
- administração séria e transparente, sem imobilismo;
- planejamento;
- estrutura.
Vacina tem, na aparência, um custo alto, mas é mera aparência.
Vacina, mesmo essa tríplice, aliás, tem que ser essa tríplice, pois ou é tríplice ou não é vacina para o futebol, custa barato. Muito mais barato que o emprego de antídotos.
Vale lembrar, sem querer influenciar demais, que um antídoto é e sempre será um remédio. E é um produto que funciona bem, quando funciona, por um prazo curto. É da natureza do antídoto ter vida curta, afinal, ele foi criado e pensado pela natureza para uma finalidade única, exclusiva. Satisfeita sua necessidade de uso, torna-se inútil, até nocivo. Ao contrário da vacina, que não é um remédio e funciona por prazos longos, geralmente por toda a vida, mas pode, em alguns casos, precisar de uma dose de reforço. Nada demais, só ajuda.
A vacina incorpora-se ao organismo, passa a fazer parte dele de tal forma que a partir de um certo momento não se consegue mais separar um do outro.
Mas, agora, deixo com vocês a ruminação, se assim quiserem, dessa vacina.
Ou alguém prefere a emoção inigualável do uso do antídoto?
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