Um Olhar Crônico Esportivo

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terça-feira, maio 08, 2007

Dinheiro da TV



Nos blogs e listas de discussão sobre futebol é difícil discutir alguma outra coisa que não seja desempenho presente, passado ou futuro de um jogador, ou, até mais comum, arbitragens. Ah, como o pessoal gosta de falar de arbitragem. Brasileiro não gosta de futebol, gosta mesmo é de arbitragem, de preferência com o apoio de 36 câmeras de televisão e mais o computador do tira-teima, contra o pobre árbitro dotado de dois olhos e duas pernas. Um massacre, bem ao gosto do torcedor.

Vez ou outra aparece algum louco deslocado no tempo e no espaço e discute esquemas táticos. Uma raridade.

Marketing e finanças, então, nem pensar. Bota raridade nisso.

Hoje mesmo, postei o que considero informação interessante ligada ao futuro dos clubes da 1ª Divisão e o retorno foi zero, tanto no blog do Ledio Carmona, como na lista de discussão da São Paulo Net. Falta de retorno por falta de retorno, postarei aqui também.

Na próxima terça-feira, dia 15, acontecerá uma reunião muito importante para os clubes da 1a Divisão: executivos da Tv Record vão reunir-se com Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, para discutir a compra dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.

Uma vez mais a Record não confirmou que tenha oferecido 500 milhões de reais pelo campeonato (182 milhões de euros). Diz a emissora que essa reunião com Koff é para começar a estudar valores. Apesar disso, é claro que esses 500 milhões não saíram do nada - lembrando que a Globo paga, atualmente, 300 milhões (109 milhões de euros) pelo campeonato e foram “jogados” no mercado como uma isca inicial. Eu não ficarei surpreso se a Record jogar na mesa de negociação algo como 600 milhões de reais (217 milhões de euros). É bom não esquecer que a partir do momento em que a Record for uma emissora forte no futebol brasileiro, ela estará mais cotada, diante da FIFA, para pleitear a transmissão da Copa do Mundo. Se 2010 já está fechada (aparentemente), 2014 ainda é um campo aberto. E o tempo que resta é curto, embora pareça longo.

O melhor cenário possível, porém, seria uma venda compartilhada entre as duas redes e mais a Band atrelada à Globo, elevando os valores para algo como 250 milhões de euros ou um pouco mais. Esse valor em reais é igual à nada desprezível fortuna de 690 milhões de reais.
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Impossível?

Veremos. Mas começo a acreditar que não é um valor impossível de ser alcançado. Mas não por uma única rede de televisão. Para se chegar ao faturamento necessário para pagar essa quantia, as emissoras precisariam dobrar o número atual de patrocinadores, além de um aumento nas vendas do pay-per-view. O mercado sinaliza com alguns negócios que me levaram a imaginar ser isso possível.

Um valor como 600 ou 690 milhões de reais implicaria numa renda média de 11 a 12 e meio milhões de euros por clube. Dinheiro de gente grande até mesmo na maioria dos países europeus.

E é aqui que o bicho pegará.

Por tudo que sei, olhando essas tratativas à distância, vai haver muita discussão em torno da distribuição desse dinheiro. Como já ocorre hoje, por sinal. Só que, com mais dinheiro na mesa, mais forte será a briga. A distribuição do bolo acirrará os ânimos que já andam bem exaltados. Os líderes de audiência – Flamengo, Corinthians e São Paulo – querem uma fatia maior no bolo existente. Tentam puxar para o grupo Vasco e Palmeiras, mas os desempenhos desses dois times não têm colaborado com a audiência. E a turma que fica de fora reclama muito.

Essa situação só reforça a possibilidade da emissora, ou emissoras, negociar diretamente com cada clube o valor de sua cota de tv. Pelo menos no caso do São Paulo e Flamengo essa perspectiva já está bem próxima. O mesmo ocorreria com o Corinthians, mas é difícil saber alguma coisa concreta e confiável do clube do Parque São Jorge, com seu atual caos administrativo e gerencial. Para começo de conversa, ninguém sabe hoje quem, de fato, manda no clube ou no futebol ou em ambos.
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Olhando de fora, repito, acredito que as negociações serão individuais com esses três citados, e, talvez, também com Vasco e Palmeiras. No caso de Internacional e Grêmio acredito numa negociação conjunta, apesar da rivalidade enorme entre os dois clubes. Mas na hora do dinheiro é bom pôr a cabeça à frente das decisões e não o coração.

Enquanto os torcedores não tiram os olhos do gramado, o jogo mais importante, a meu ver, já está acontecendo em cima de uma mesa de negociações, nos bastidores.


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4 Comments:

  • At 9:30 AM, Anonymous Anônimo said…

    Émerson, gosto muito das suas abordagens "fora das quatro linhas", mesmo não postando, estou sempre de olho.
    Especificamente sobre esse texto, primeiro acho que deve-se levar em consideração até que ponto a oferta da Record é benéfica a sociedade, tanto do lado de onde ela consegue essa receita (tendo em vista que é um dinheiro não tributado), quanto se esta é uma proposta "correta" do ponto de vista de mercado (será que dobrar o dinheiro que a globo já paga não é uma tentativa de dumping? será que ela conseguiria lucro com isso? qual a verdadeira intenção da Record?). Entendo que seria de extrema importância a fuga do monopólio global no futebol brasileiro, contudo acho que com a inclusão da Record na parada, após algum tempo, apenas teríamos mais um monopólio e pior mais parcial e sensacionalista.
    Sobre a questão de negociar os dinheiros de TV direto com os clubes, acho um ótimo negócio, o retorno que determinado clube da uma emissora seria melhor avaliado e remunerado. No entato, tenho uma dúvida: Se o São Paulo fechasse com a Globo e o Goiás com a Record, quem teria o direito de transmitir o jogo sábado?

    Desculpe pelo longo texto.

    Abraço

     
  • At 12:51 PM, Blogger Emerson said…

    Obrigado, Paulo. Quanto ao texto, nada tem de longo, tá ótimo.

    Vamos lá...

    Cada time venderia o seu mando de campo, certo? Logo, se X compra o SP e Y compra o Goiás, X transmite o jogo, com exclusividade.
    Ou não, aí vai depender de acertos entre as redes.

    A Record tem uma contabilidade apurada, é fiscalizada pelo Fisco, etc. O grosso de sua receita vem do mercado publicitário. O dinheiro que entra da igreja, entra via compra de horários para transmissão de programas.

    Embora eu não morra de amores pela Record e por seus donos, tenho que ser justo e reconhecer que há muito falatório contra os caras baseado em informações falsas.

    Olhe, eu acho que o mercado tem capacidade para suportar as verbas que eu coloquei no texto.
    Pensando bem, eu não acho, eu tenho certeza (embora sem números e pesquisas) que o mercado suporta esse aumento nas verbas para os clubes que, obviamente, será repassado aos anunciantes e ao crescimento na base de assinantes do pay-per-view.

    É justo e legítimo ofertar mais por um serviço. Não vejo problema nisso. E a ascensão da Record implicará numa maior abertura do mercado, ou seja, uma quebra no que se chama de "monopólio" da Globo, mas que, tecnicamente, não é um monopólio.

    Além disso, eu acredito que num certo momento as redes entrarão em acordo e acabarão transmitindo os jogos uma das outras. Por uma questão até de manutenção da grade de programação. Mas a Globo vai brigar muito para não perder essa exclusividade, que ela negocia com a Band, e já negociou com a própria Record.

    Seja como for, um fato é real e muito bom: os clubes, e o futebol brasileiro, beneficiam-se dessa disputa.

     
  • At 5:39 PM, Blogger Iara Alencar said…

    Ola emerson
    Dinheiro é um tema muito sério e complexo para ser abordado em blogs de massa e de táticas esportivas como o do Ledio.
    Porque?

    1- Para tocar nesse assunto é necessário ter conhecimento mais profundo sobre o tema, finanças de um clube são coisas muito às escondidas.
    2- sobre a questão de Tv. Mnha ideia é a mesma.

     
  • At 9:29 PM, Blogger Fabricio said…

    Como ficou essa negociação, tem notícia?

    A Globo já faturou a Copa de 2014.

     

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