Um Olhar Crônico Esportivo

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sábado, junho 30, 2007

Evolução exemplar e anômala


Pelo que sabemos hoje, o Homo habilis é a espécie mais antiga do gênero Homo, ou seja, nosso ancestral direto mais antigo, que viveu no leste Africano entre dois e duzentos e um milhão e seiscentos mil anos atrás.
Os poucos fósseis descobertos foram o bastante para mostrar o
aumento do tamanho do cérebro.

O Homo erectus é considerado uma evolução em relação ao habilis e viveu entre dois milhões e quatrocentos mil anos atrás. Além do cérebro mais desenvolvido, o Homo erectus já apresentava como característica a locomoção bípede e foi, também, o primeiro de nossos ancestrais a explorar e transformar seu ambiente, graças ao provável aprendizado de como fazer fogo e também algumas ferramentas e armas. Pelo jeito, foi com ele que tudo começou.

Há cerca de quatrocentos mil anos, surgia, em toda sua glória e esplendor, o Homo sapiens. Supostamente o auge de nosso desenvolvimento evolutivo, só supostamente, como veremos a seguir.

Uma subespécie do Homo sapiens, é o Homo sapiens var. assessorium, ou burocratus ou politicus de baixo clero. Se com o Homo erectus desenvolvemos nossa locomoção bípede, importante para alargar nossos horizontes em busca de mais comida e abrigo, além de facilitar a detecção de inimigos, com essas modernas subespécies desenvolvemos a paradoxal arte da locomoção bípede de quatro. Sim, de quatro, pois são seres que se curvam e assim desenvolvem suas vidas e carreiras, curvados aos desejos e interesses de outros. Um animal muito interessante evolutivamente, ainda que asqueroso pessoalmente. Como as baratas de esgotos.

Outra evolução do Homo sapiens é o Homo sapiens var. profissionalis, que na vida real são conhecidos por executivos, geralmente de empresas multinacionais. São tidos e havidos como um dos pontos culminantes da evolução, a mesma que nos gerou Gisele Bundchen e Lula, Lorelai Gilmore (Lauren Graham) e George Walker, Pelé e Sandro Goiano. Nenhum desses é executivo, mas são, também, assim como o companheiro Chávez, pontos altos de nossa evolução, provando que ela não tem o sinal de positivo acoplado, e muitas vezes, até na maioria dos casos, aparentemente, o sinal acoplado é o negativo.

A complexidade evolutiva, associada à complexidade do mundo moderno e suas exigências, trouxe o desenvolvimento de uma supespécie de Homo muito interessante. Ela tem vida curta, e nasce e cresce como Homo sapiens sapiens e depois, no final da adolescência e começo da vida adulta, muda para Homo sapiens var. estagiarius, até que, meses ou anos depois transforma-se no Homo sapiens var. profissionalis.

Ser interessante esse estagiarius. Aparentememente dotado de bom cérebro e habilidades, é mais usado como um servidor de café para os profissionalis de seu habitat. Os estudos mais recentes mostram três perfis distintos entre esses indivíduos:

- os pró-ativos, que são fuçadores, workaholics e provêm, em sua maioria, de lares com o mesmo perfil; desse grupo saem milionários diversos e donos de jatos executivos, poluidores atmosféricos em alto grau;

- os ativos, que desembocam em profissionalis típicos, relativamente bem remunerados, inseguros, infelizes, pagadores de pensões alimentícias e mantenedores dos chamados bares single;

- os pegadores de café; subcategoria interessante, muito interessante; seus membros têm três destinos: o olvido, puro e simples; ou a glória, transformando-se em líderes políticos de primeira grandeza aos olhos da plebe ignara; e ainda, finalmente, transformar-se em eméritos sevandijas, já na subespécie burocratus ou politicus ou assessorium; de acordo com a literatura especializada, Bush, Chávez e Lula são bons exemplos dessa subcategoria.

Falando ainda um pouco mais dessa subcategoria dos pegadores de café, estamos hoje às voltas com um de seus representantes. Ao contrário da média, esse começou sua carreira e transformação um tanto tardiamente, já na fase adulta plenamente instalada. De Homo sapiens foi transformado em Homo sapiens var. estagiarius num momento até certo ponto natural, desde que precedido por rituais específicos da área. O individuo em questão não só não passou pelos ritos e deveres prévios, como foi transformado, por ordens superiores, em um profissionalis de alta responsabilidade e alta remuneração, num caso não só anômalo como totalmente desprovido de lógica e coerência. Estou falando do treinador da seleção brasileira, o ex-jogador Dunga, que embora tenha o cargo de técnico, não passa de um estagiário.

- Ô, Dunga! O Dr. Ricardo pediu um cafezinho urgente. Pega lá e leva pra ele.

Esse rapaz vai longe.



De novo, um post scriptum

Porque não Dunga

Dunga não é treinador.

Dunga é um ex-jogador plantado à beira do campo e nada mais.

Lamento, Gigi, e todos que gostam do Dunga, mas ele não é treinador.

Nesse momento, ele deveria estar dirigindo o XV de Campo Bom, ou, quando muito, o Caxias. Depois de dois ou três anos, tendo sucesso, poderia passar para um time da 1ª Divisão, como o Juventude, por exemplo. Ou o Paraná, o Figueirense, talvez. Mais uns dois ou três anos e aí, sim, um dos grandes, isso, claro, tendo sucesso no Juventude da vida. Mais tarde, vencedor de Brasileiro, Libertadores, sem dúvida, nada mais justo do que almejar a Seleção Brasileira.

Recentemente critiquei as contratações de Caio Jr., Gallo e Dorival Jr., por Palmeiras, Internacional e Cruzeiro. Justamente por achar que times e clubes com a grandeza e pretensões desses três, precisariam de técnicos à altura. Ora, se eu aceitar Dunga pela Seleção, de três uma: ou eu só penso e falo abobrinha, ou renego tudo que penso e escrevo, ou a Seleção é menor e menos importante que qualquer clube da 1ª Divisão. Mais, a Seleção, nesse caso, equivaleria, quando muito, a um time pequeno do interior do Rio Grande do Sul ou de São Paulo. E olhe lá.

Sei por conhecimentos outros, que Dunga é excelente pessoa em todos os sentidos. Ótimo, que bom. Mas o fato dele ser o treinador da Seleção Brasileira, indicado por Ricardo Teixeira, ser abominável, cuja família é dona da CBF há décadas, é muito ruim. Tudo que se liga a Ricardo Teixeira. Critiquei, embora não muito, a proximidade da direção do meu time desse indivíduo, tendo em vista um objetivo muito maior. Engoli, mas não gostei. Assim como não gostei da indicação de Dunga para treinador. Ela é despropositada. Ela é desrespeitosa com todos os treinadores brasileiros. Ela é estranha, sim.

E o que faz o treinador Dunga logo de cara?

Põe os dois melhores jogadores brasileiros no banco. De castigo. Ora, francamente, como se Kaká e Ronaldinho precisassem de castigo. Como se fossem eles os culpados pela débâcle de 2006. Como se fossem os jogadores, aliás, os culpados por tal débâcle. Ficou a lenda, ficou o mito para a história oral: o Brasil “perdeu” a Copa de 2006 por culpa dos jogadores. Isso é uma tolice, para usar um termo educado. A parcela de culpa dos jogadores é a menor de todas. Antes deles, vem a fantástica direção da confederação e sua comissão técnica, ambas com grande, enorme parcela de culpa no processo.

Voltando ao novo treinador, basta observar seu trabalho: ele não sabe comandar um time, tecnicamente. Então, minha cara Gigi, que eu tanto admiro pela inteligência e combatividade, Dunga não serve para a Seleção Brasileira.

Poderia fazer outras críticas ao trabalho dele, mas é bobagem, não vale a pena. Uma coisa, porém, não posso deixar passar sem menção: há muito tempo, há alguns anos, na verdade, eu condeno o excesso de convocações de jogadores que atuam no exterior e a quase total ausência de jogadores que atuam aqui mesmo, no Brasil. Nesse momento de renovação da Seleção, o que faz o novo treinador? Convoca reservas de times medianos ou nem isso da Europa, e deixa por aqui, sem convocação e sem esperança, jogadores no mínimo tão bons quanto esses reservas europeus. Com isso, sua ação só dificulta a permanência dos jovens valores por aqui, sendo, na verdade, um estímulo à saída precoce da rapaziada. Lamentável.

Quanto à Argentina, os jogadores portenhos são diferentes dos brasileiros, têm nível cultural diferente, tem uma história e formação diferentes dos nossos. Patriotismo por lá tem um sentido mais forte e nobre do que por aqui, onde crescemos habituados a ver os patriotas se dando muito bem na vida, às custas dos milhões de patriotas do dia-a-dia. O Brasil é a confirmação das palavras de Samuel Johnson: o patriotismo é o último refúgio dos canalhas.

Eu completaria essa frase lapidar: aqui, é o primeiro e último refúgio dos canalhas. E todo mundo sabe disso. Quem não sabe, sente.

Por fim, a Seleção Argentina é tratada de outra forma pela AFA. Seu treinador é sempre um profissional que infunde respeito, tem história, tem conhecimento, tem vivência e é respeitado como treinador.

Não é bem o nosso caso.

Não me queira mal por isso, Gigi.

Dunga e Edinho são nossas maiores diferenças.

:o)

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6 Comments:

  • At 3:57 PM, Anonymous Anônimo said…

    Émerson, pode ser que eu esteja enganada, mas sinto em sua rejeição ao Dunga uma coisa que excede os limites do razoável. Vejo em alguns momento você defender vários profissionais por suas opções e atitudes. Muitas vezes sem nem entrar no mérito da discussão, simplesmente valorizando o “livre arbítrio”. Agora quando se trata do Dunga, você pega pesado sempre. Tudo que envolve ele no comando da seleção, para você assume ares de submundo. No entanto, o Dunga é uma pessoa de personalidade e caráter. Já o presidente da CBF, possui um histórico público que nos permite, ao menos questionar sua seriedade. No entanto, ele é o presidente e na sua gestão, vários foram os técnicos da seleção. Todos servidores de cafezinho? Émerson, nas cinco copas disputadas, contando com a presença e a “boa vontade” dos nossos astros, vencemos apenas duas. Na última copa, não li ninguém defendendo a seleção, só criticas. Criticas ao banho de sol do Roberto Carlos no banco, aos quase pedidos de autógrafos de nossos astros a Zidane e cia. Críticas a falta de vontade em campo. Passeios em boates solenemente negados e depois admitidos. Verdadeira Expofeira do descomprometimento.
    O Messi, mesmo sem querer comprometer-se, foi claro ao dizer que jogador argentino não despreza atuar pela seleção, que não tem cansaço ou motivo qualquer que vença o orgulho de defender seu país. Aqui, infelizmente é tudo diferente. Uns em nome disso, outros daquilo, apóiam a decisão egocêntrica tomada por nossos craques, como se eles já muito tivessem nos servido e merecessem esta honra. Apagão geral. E agora, coroando o estágio Homo sapiens var. profissionalis deixaram o nosso “estagiário” na mão. E o pior é achar que eles sim, são profissionais. O que eu sei, é que sou brasileira, gosto da seleção, torço por ela sem vergonha alguma. Tenho orgulho de nosso “estagiário” pela história esportiva e pessoal que construiu. E sabe, me dá muita tristeza a torcida feita contra ele e a seleção pelo simples prazer de se autodenominar uma Pitonisa moderna, estufar o peito, erguer a cabeça e dizer: Eu estava certo.
    E para completar, vou “plagiar “ um comentário do JÁ, com algumas alterações, pois achei o mesmo muito interessante:
    O Comitê pró-Dunga sempre soube que seria difícil lutar contra o gosto moldado e estereotipado pelas mídias, mas mesmo assim, em nome de uma brasilidade que a cada dia menos presente se torna, apoiou a candidatura, quase uma anti-candidatura relembrando outros tempos.
    Abraços

     
  • At 7:16 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson, a respeito do seu post scriptum sobre o Dunga: concordo integralmente com sua análise. Inclusive num aspecto que venho enfatizando em meus comentários no J.A. acerca da "seleção brasileira": Dunga, o estagiário, e seus patrões perderam uma ótima oportunidade de dar ao torcedor médio de futebol brasileiro o prazer de voltar a torcer pela seleção nacional. Ao manter o status quo de privilegiar sob aspectos (no mínimo suspeitos), a convocação de jogadores medíocres pelo simples fato de atuarem na Europa. É uma atitude arrogante, antipática e estúpida ao renegar a bons jogadores que jogam no Brasil a esperança de defender a "seleção brasileira". Enquanto a CBF for dirigida por esse feudo que lá se encontra há anos, eu sou anti-seleção. Aliás, meu time sempre esteve e sempre estará em primeiro lugar na minha paixão por futebol.
    Parabéns pelo texto e pela clareza em transmitir suas opiniões.
    Abraço.
    P.S. Que a brilhante Gigi me perdoe mas nessa eu discordo completamente da querida blogueira.

     
  • At 8:37 PM, Anonymous Anônimo said…

    Isso sem falar que Jônatas, do Flamengo, convocado de forma brilhante para aseleção brasileira, transferiu-se em seguida para o Espanyol. Há poucos dias, Lincoln, incluido na pré-lista por indiscutível mérito, transferiu-se em seguida para o Galatasaray. Não me lembro de mais algum caso de jogador convocado por indiscutível mérito e que tenha, sem seguida, sido negociado. Mas certamente alguns foram chamados em razão de seu vistoso futebol, mas, por qq razão da vida, não conseguiram concetrizar as negociações almejadas por eles, por seus empresários e por aqueles que colaboram com as negociações.

     
  • At 3:28 PM, Anonymous Anônimo said…

    Émerson, vou começar a ler teus comentários uma vez por mês para não te fazer trabalhar dobrado, rsrsrsrsrs.
    Procuro sempre não ficar "cega" na hora de analisar situações. Concordo com algumas coisas que você diz, só não concordo em transferir para o Dunga a revolta que se tem com a CBF.Mas não argumentarei mais para não obrigar você a escrever uma tréplica.Já pensou se você "enjoar" de mim? Com quem vou argumentar?
    ............
    Esqueceu que entre nossas poucas diferenças está o Rogério Ceni,rsrs.
    ............
    P. Gonçalves, eu nunca ficaria chateada com você. Você sempre é muito objetivo ao defender seu ponto de vista, e isso é o que mais valorizo em uma argumentação.
    Abraços.

     
  • At 11:31 AM, Blogger Iara Alencar said…

    Bom dia seu emerson.
    Voce veio o com todo este papo de homo sapiens apenas para falar do dunga aquilo que todos falam??e não acrescentar nada de novo?
    Acho que o nome disso chama-se encheção de lingüiça. Pronto falei.
    Ah mudou o layout do blog! Parabens.

     
  • At 10:37 PM, Anonymous Anônimo said…

    Então Emerson...
    Como sempre vc desenvolve um pensamento semelhante ao meu de forma mto mais ampla, fazendo-se entender.
    O Dunga é isso aí mesmo, um estagiário.
    Abraço.
    Ps: obrigado pela visita e comentário em meu blog.

     

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