Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

<

quinta-feira, agosto 09, 2007

E as expectativas?

Pois é, e as expectativas?

Confesso que, no íntimo, esperava por um jogo mais bonito do que esse que fizeram Botafogo e São Paulo. Todavia, ao contrário de muitos torcedores e jornalistas, não coloco o jogo de ontem na lista dos feios porque nossos melhojres jogadores estão na Europa. Ate porque já nos cansamos de ver jogos feios entre grandes equipes européias, recheadas com o que de melhor produz o terceiro-mundo em matéria de pé-de-obra. Tivemos, isso sim, um jogo intensamente disputado onde ninguém quis ceder o mínimo espaço ao outro.

E jogar futebol sem espaço é coisa complicada.

Lentamente, estou começando a rever alguns conceitos que trago comigo há muitos anos, em relação ao futebol que vi nos anos setenta. E onde o futebol já começava a passar por uma transformação que, de certa forma, já permitia antever a realidade de hoje.

Os futebolistas são cada vez mais atletas e cada vez menos artistas, graças à evolução das diferentes ciências aplicadas ao dia-a-dia do futebol, principalmente a preparação física. A conseqüência direta disso é a diminuição dos espaços em campo, porque os jogadores correm mais e correm mais por mais tempo. Portanto, se tomarmos quatro fatores: espaço, tempo, velocidade e resistência, veremos que dois são imutáveis, o espaço de jogo e o tempo, e outros dois são variáveis e com valores crescentes, a velocidade e a resistência dos jogadores. Ora, isso leva, naturalmente, a um reforço, a uma maior marcação. O jogador habilidoso que recebe uma bola tem menos tempo e menos espaço para trabalhá-la.

A resposta a isso precisa ser dada pela tática e pelo aperfeiçoamento na troca de bolas. O problema é que esse aperfeiçoamento, buscado por todos, é alvo difícil de ser atingido. Ele pressupõe jogadores com grande consciência e obediência tática, o que vem com uma evolução no comportamento e formação dos jogadores e muito treinamento com equipes estáveis.

Opa!

Equipes estáveis?

Sim, não só estáveis como dispondo de alguns jogadores-chave capazes de dar fluência ao jogo. Justamente os jogadores que menos tempo permanecem numa equipe, indo embora do time e do país tão logo despontam.

Botafogo x São Paulo

Os dois times marcaram forte. O ataque botafoguense é hoje bem melhor que o tricolor, e tem como característica o toque envolvente e jogadas inteligentes feitas por jogadores habilidosos. Mas bateu na marcação são-paulina, muito difícil de ser ultrapassada. Alex Silva, Breno e Miranda são jogadores dotados de excelente técnica e naturalmente adaptados à zaga. Os três têm altura, melhorada com boa impulsão e ótima colocação, assim como têm porte físico e são velozes. Tecnicamente, o melhor deles ainda é Miranda, mas os outros dois ainda estão em evolução, pois são muito jovens para zagueiros – como, aliás, é jovem o próprio Miranda. A par disso, os volantes do São Paulo são excelentes marcadores e os atacantes têm sua parte nesse mérito, pois frequentemente atrasam, pelo menos, a saída de bola adversária, o que sempre dá tempo à defesa para se arrumar melhor. Por fim, e no fim, um goleiro raro. Definitivamente, Rogério Ceni não é um grande defensor de bolas. Ele é bom, pega bem, mas suas maiores qualidades são a visão do jogo, o comando da defesa, a colocação e a fantástica habilidade em jogar, e também defender, com os pés. Presta-se tanta atenção às suas cobranças de faltas e pênaltis que perde-se de vista o conjunto de suas qualidades. Assim, Dodô, André Lima e Jorge Henrique, mais Lúcio Flávio e Joilson, não conseguiram jogar o que habitualmente jogam.

O ataque tricolor, meias incluídos, não é ruim em tese, muito pelo contrário, até. Porém, por motivos vários, ainda não se acertou nessa temporada. Contusões, suspensões, má fase técnica, tudo se juntou e vem impedindo, sistematicamente, uma boa formação. Isso facilitou o trabalho da defesa botafoguense, incluindo aqui seus volantes. Tal como o São Paulo, o Botafogo também marcou forte e marcou mais adiantado em boa parte do jogo, reduzindo ainda mais os espaços. Isso obrigou o São Paulo a recorrer aos chutões da defesa para a frente, porque, por não ter meio-campistas habilidosos e em boa fase, e pela presença da marcação adiantada do adversário, não tinha como sair tocando a bola com passes bem executados.

O time da casa estava mais nervoso que o visitante, o que, num jogo importante, badalado e cercado de expectativas, é normal. Isso refletiu-se em atitudes mais ríspidas e em algumas faltas duras, fugindo à característica do time, que não joga tão duro, normalmente. Uma entrada dura e desnecessária de Luciano Almeida sobre Reasco provocou a fratura da tíbia da perna esquerda do jogador equatoriano, que pela primeira vez, assim como Breno e Borges, jogava no Maracanã. Triste estréia. A gravidade do lance só impactou o time do São Paulo no intervalo. O lance mais grotesco do jogo, sem dúvida, foi a falta, também desnecessária, de Túlio sobre Leandro, em outra zona “morta” do campo, tal como o local em que foi feita a falta sobre Reasco. Nesse segundo caso, o zagueiro Renato Silva já acompanhava Leandro, rente à lateral, de costas para a área, e Túlio precipitou-se, derrubando o atacante e passando por cima dele. No caminho, um chute com o pé esquerdo no rosto do atacante no chão e outro com o pé direito. Tudo isso a poucos metros do assistente e não muito distante do próprio árbitro, que sacou o cartão vermelho imediatamente. Fiquei surpreso com esse lance, pois considero Túlio um dos melhores jogadores do campeonato, volante excelente, e sobretudo por ele ser um cara inteligente e articulado. Mas ontem estava nervoso demais. Se foi ou não provocado por Leandro nem vem ao caso. Futebol é jogo cheio de provocações e catimba, desde os jogos nos “recreios” das escolas até as decisões de Copas do Mundo. Isso está no DNA desse esporte e um profissional aprende, antes de tudo, a não dar atenção a isso. Exceto quando há um quadro de nervosismo mal administrado.

E os gols?

Pois é, tivemos gols, nada menos que dois.

O primeiro foi feito pelo zagueiro Alex Sliva, que, como já disse, além de alto tem boa impulsão e venceu a marcação do bom zagueiro Juninho, cabeceando a bola em cobrança de escanteio de Jorge Wagner.

O segundo nasceu de uma roubada de bola de Junior, numa má saída do Botafogo. Na seqüência, com a defesa desarrumada, a bola chegou a Leandro que chutou cruzado da entrada da área. Muitos dizem que Junior cometeu falta ao roubar a bola. Outros tantos dizem que a jogada foi legal. Por tudo que eu vi, fiquei com a impressão de jogada legal, com o lateral pegando a bola e ocorrendo o choque, na seqüência, com o zagueiro. O árbitro, a poucos passos, considerou normal.


O árbitro...

De maneira geral foi bem. Nada a destacar, exceto por esse lance do qual nasceu o segundo gol. Mas se parte dos críticos tem dúvidas a respeito, fica difícil acusar o árbitro de alguma coisa. Nesse ponto, aliás, houve um toque nítido de braço na bola na área botafoguense que ele sinalizou como não-intencional. Se fosse o caso de “querer errar”, teria sido fácil marcar pênalti no lance, ao invés de mandar seguir. Quanto à expulsão... O lance foi tão grotesco que nem merece comentários. O cartão vermelho nem pode ser chamado de justo, e sim de automático.

E agora?

Agora é tocar em frente.

Cabe ao São Paulo não se iludir e trocar as chuteiras por saltos altos.

Cabe ao Botafogo dar seqüência ao excelente trabalho feito até aqui.

Ainda restam 20 rodadas, 20 jogos para cada time.

É muito campeonato pela frente.

Nada está decidido.

Mas...

Mas é muito difícil cachorro grande largar um osso saboroso que já está em sua boca.




Scout Um Olhar Crônico Esportivo

Faltas


O São Paulo cometeu um total de 23 faltas – 10 no 1º tempo e 13 no 2º tempo, assim distribuídas:

6 na Defesa

11 no Meio

6 no Ataque

O Botafogo cometeu 21 faltas no total, das quais 9 no 1º tempo e 12 no 2º tempo, assim distribuídas:

4 na Defesa

12 no Meio

5 no Ataque


As faltas do São Paulo foram cometidas por:


Jorge Wagner – 4

Hernanes – 4

Borges – 3

Leandro – 3

Miranda – 2

Josué – 2

Alex Silva, Richarlyson, Dagoberto – 1 cada

Não identifiquei os autores de 2 faltas

Faltas cometidas pelo Botafogo:
André Lima - 3
Dodô - 3
Leandro Guerreiro - 3
Túlio - 3
Luciano Almeida - 2
Joilson - 1
Não identifiquei os autores de 6 faltas.


Escanteios


5 para o São Paulo e 3 para o Botafogo

Finalizações


12 para o Botafogo e 8 para o São Paulo

.

Marcadores:

4 Comments:

  • At 10:59 AM, Anonymous Anônimo said…

    Émerson, bom dia.
    Ótima análise do jogo. Realmente a arte do futebol está cada vez mais rara. Mas nem por isso o jogo deixa de ser inressante para nós.
    Tenho que admitir que o Muricy, apesar da demora, esta ajeitando o time. Do meio pra trás já encontrou o time ideal (e com variações muito boas), do meio pra frente o time ainda peca, tanto por culpa dos jogadores, tanto por culpa do Muricy.
    Sábado é um bom jogo pra trazer a torcida tricolor de volta! eu, como sempre, estarei lá, na geral azul! Se puder, dê uma passada lá!

    Abraço!

     
  • At 12:25 AM, Anonymous Anônimo said…

    Primeiro uma perguntinha:
    Émerson ou Emerson?
    Toda vez que escrevo, automáticamente acentuo, mas quando leio coisas assinadas por você, é sem acento. Então?
    .......
    Falei no outro post que um jogo não diz nada.
    Sigo achando o mesmo.
    Noto entretanto, que o São Paulo tem mais opção quando se trata de banco.
    Foi também muito perceptível a diferença de maturidade entre os dois times.
    Comparo a partidas de tênis disputadas entre meu marido e meu filho de 15 anos. Embora meu filho tenha muito mais técnica e vigor físico, sua imaturidade o derrota.
    Sucumbi as provocações do pai. Usa a técnica e o preparo físico mas não usa a cabeça, e em alguns momentos até a perde, rsrsrsrs
    Assim foi o Botafogo.
    ...............
    Você anda surpreendente.
    Ontem aquela quase inconfidência sobre o Rogério. Hoje, esta chocante declaração "Lentamente, estou começando a rever alguns conceitos que trago comigo há muitos anos, em relação ao futebol que vi nos anos setenta."
    ......
    Estou feliz, noto que nossas diferenças começam a diminuir.
    Para completar, só falta fazer uma releitura do "Dossiê Edinho".
    Ou será que aí já é demais?
    Abraços.

     
  • At 3:04 AM, Anonymous Anônimo said…

    A resposta a isso precisa ser dada pela tática e pelo aperfeiçoamento na troca de bolas. O problema é que esse aperfeiçoamento, buscado por todos, é alvo difícil de ser atingido. Ele pressupõe jogadores com grande consciência e obediência tática, o que vem com uma evolução no comportamento e formação dos jogadores e muito treinamento com equipes estáveis.

    Acrescento à sua resposta o jogador talentoso e inteligente que encontra soluções rápidas para esse futebol pegado.
    Abraços
    Victor

     
  • At 1:16 AM, Blogger Chico da Kombi said…

    É impressionante a categoria do jovem zagueiro são-paulino Breno para desarmar, sair jogando e arrancar até o ataque. Uma jóia que se a história seguir seu curso normal, será um dos maiores zagueiros do Brasil.
    Força FOGÃO!

     

Postar um comentário

<< Home