Um Olhar Crônico Esportivo

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segunda-feira, novembro 26, 2007

Ouvindo Ferran Soriano - Parte II



Quem?

Ferran Soriano, Vice-Presidente Econômico do FC Barcelona.

Um dos homens por trás do reerguimento do Barça a partir de 2003, quando a administração Joan Laporta tomou posse do clube.

Ferran esteve no Brasil a convite da Cámara Oficial Española de Comercio en Brasil e proferiu, em auditório da Universidade Anhembi-Morumbi a palestra

A Indústria do Futebol e a Estratégia de Negócios no Mercado Esportivo”.

Foi, sem dúvida uma oportunidade única para ouvir alguém com muito para mostrar, baseado em um trabalho cuja melhor definição é, simplesmente, brilhante.

Ao invés de escrever sobre a palestra, farei um pouco diferente, vou tentar, simplesmente, transmitir informações, conceitos e opiniões expressados pelo Ferran. Sua palestra teve como base a apresentação “A Vision of the Football Industry and the Case of FC Barcelona”, recheada com muitos números, tantos que não foi possível tomar nota de todos.



Ferran Soriano - Um pouco sobre ele

O dirigente do Barça construiu sua carreira trabalhando no mercado de bens de consumo, marketing e estratégia de negócios, com muito sucesso. No Barcelona, Ferran, que subiu junto com Laporta em 2003, é um dos grandes responsáveis pela estratégia de globalização do clube, que levou o Barcelona a se tornar uma verdadeira multinacional que fatura, hoje, mais do que todos os grandes clubes brasileiros juntos.

Os números realmente impressionam. Segundo estudo da Casual Auditores Independentes, o faturamento em 2005 do Real Madrid e do Barcelona, os dois maiores clubes da Espanha, atingiu 484 milhões de euros, o equivalente a meio por cento do PIB da Espanha no ano (904 bilhões de euros).

A receita do Barcelona na temporada 2006/2007 foi de 290 milhões de euros, e a previsão para essa temporada em curso, que terminará em junho de 2008, é de alcançar uma receita de 315 milhões de euros.

Vamos, então, aos tópicos da palestra.



A Indústria do Futebol, o “Matchday” e os Estádios


Sob essa rubrica “matchday” nos balanços dos clubes europeus, principalmente os grandes, vemos sempre números sonoros, bonitos, grandiosos. O “matchday” significa mais que simplesmente ir ao estádio ver o time jogar. Significa comer – bem – no estádio, fazer compras, passear, significa, enfim, em fazer do jogo um programa de lazer que envolve familiares ou amigos. Todos, naturalmente, gastando alguma coisa, e dessa alguma coisa, “alguma coisa” vai para os cofres do clube.


No Brasil não temos a rubrica “matchday” nos balanços e planilhas, temos, simplesmente, a rubrica “bilheteria”. Tal e qual os circos de nossa infância, nos bairros e cidades periféricas, que viviam, alguns sobreviventes ainda o fazem, da renda da bilheteria, a única à qual tinham acesso.

Na Europa e na Espanha, em particular, há trinta anos 90% das receitas dos clubes vinham da bilheteria. Ou seja, os clubes, tal como os circos, dependiam de um espetáculo realizado ao vivo e de alcance local. Isso mudou de forma radical, e o futebol passou a ser uma grande indústria na área de entretenimento global. Tal como são, por exemplo, a Disney e a Warner.

Pegando o Barça como exemplo, o time é o grande produto e tem suas grandes estrelas, tal como os personagens Disney e os atores de Hollywood. Tem até seu próprio parque temático, pois é isso que é o Camp Nou. Aliás, o estádio rende por ano nada menos que 20 milhões de euros apenas com visitação a suas dependências, entre elas o museu e o próprio gramado.

Isso é receita obtida fora dos dias de jogo, quando o estádio, em condições normais, estaria vazio, deserto, apenas gerando despesas de manutenção. Com a nova mentalidade, mesmo “vazio” gera receitas.

Voltando ao tema estádio, foi importante investir forte em condições que permitissem a chegada ao futebol de camadas da população que não tinham por hábito freqüentá-los. Conforto, segurança e atrações diversas foram fundamentais e o público freqüentador foi segmentado.

Hoje, há ingressos a 30 euros ou a 200, depende do poder aquisitivo do interessado. O importante é que o ingresso, seja for seu preço, vale pelo que é oferecido, não só fora do campo, mas também no gramado, não se pode perder isso de vista.


No gráfico abaixo podemos ver alguns números interessantes.
Os times, em ordem da esquerda para a direita são Manchester United e Chelsea, Milan e Juventus, Real Madrid e Barcelona. Reparem que a menor participação do “matchday” se dá nos clubes italianos, não por acaso o país onde muitos estádios estão com problemas sérios de manutenção e segurança e onde, e isso não é coincidência, tem
havido maior número de problemas extra-campo na área da segurança.


MU / CHE MIL / JUV MAD / BARC

Os percentuais de participação do “matchday” sobre a receita total, são:

Manchester – 42,5%

Chelsea – 37,8%

Milan – 12,9%

Juventus – 6,6%

Real Madrid – 25,7%

Barcelona – 29,6%




(Comentário à parte, extra-palestra)

Estádio corintiano

Ferran Soriano e um companheiro de diretoria estiveram no Parque São Jorge, onde conversaram com os dirigentes corintianos. Curiosamente, ou nem tanto, essa visita teve mais cobertura na imprensa que a palestra. Andrés Sanches, depois da conversa, veio a público dizer que o Corinthians vai construir uma arena multiuso, talvez para 77.000 pessoas, homenageando o título de 77. Disse mais: o estádio será voltado para os ricos, que possam pagar 200 reais por um ingresso, e que haverá poucos lugares para as pessoas de baixa renda.

Pelo visto, além de meter os pés pelas mãos ao se referir a uma parcela da população com um forte peso histórico na história do clube, Andrés deixa claro que nada entendeu da conversa com os catalães, isso apesar do Ferran falar português “brasileiro” de excelente qualidade. Ficou claro que ele não entendeu o conceito de segmentação.



À guisa de post scriptum

O que dói é ouvir uma palestra sobre os estádios europeus e o que oferecem a seus freqüentadores, e dois dias depois ler a notícia e ver as fotos de mais uma tragédia num estádio brasileiro. Pior: como já disse no post anterior, uma tragédia anunciada, previsível, tanto que até esse blogueiro – que nem engenheiro é e nunca foi à Fonte Nova – pôde antecipar o que ocorreu.


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3 Comments:

  • At 5:14 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson,Você teceu um comentário abaixo, aonde se referia e perguntava, o porque que a direção do Internacional ,não permitiu a vistoria do estádio Beira Rio.Fui procurar no busca esse tipo de notícia na zerohora.com e em outros sites daqui .Em 2003, o ex presidente do Inter, Fernando Carvalho instaurou o começo do projeto de restauração e modernização do Beira Rio , com o objetivo de aos poucos fazer o estádio se adecuar as normas da FIFA.E antes mesmo do início do projeto ,o estádio foi amplamente inspecionado e avaliado por técnicos, em todos os sentidos, segurança,acesso etc, para ver quais eram os principais problemas .Dentre eles um vazamento na tubulação do canos foi detectado, e se descobriu o porque de tanto disperdicio e gasto com água.Detectou-se que a iluminação não era boa, foi totalmente trocada por uma nova,o campo ficava com sombras.Se detectou que a antiga coréia(espaço no chão do estádio) não deveria mais existir,porque os torcedores lá embaixo ficariam sem segurança , caso alguém jogasse algum objeto para baixo.Aboliu-se a coréia, e se fechou o espaço.Os técnicos também foram os avalistas da melhor forma de construção do projeto "suítes"( camarotes masters)sem danificar em nada a estrutura do estádio.Também foi construído um pórtico metálico de entrada dos vestiários para o campo, com o objetivo de atender a mais uma norma da FIFA, que exige que os times entrem juntos e pelo mesmo túnel de acesso ao gramado.Como foi na final da Libertadores do ano passado.Se colocou cadeiras no estádio, para também atender norma, e dar mais conforto ao mais de 47 mil sócios torcedores.Se construiu vestiários novos, e as instalações de fisioterapia, fisiologia, acessos, foram demolidas, para construirem novas.Em Março de 2008, começa a ser realizado o projeto Beira Rio arena para copa de 2014, tudo com recursos privados, provindos do leilao do antigo estádio do Inter, os Eucaliptos, avaliado em 30 milhoes(principalmente pelo ponto) e o restante por parceiros.Serão contruídos novos centros de eventos, dois hotéis, e um shoping, além de um espaço cultural no local.Um dos hotéis ficará para o Inter, que também terá um novo CT.Ou seja, o Beira Rio é diariamente avaliado.E essa direção sempre teve como objetivo, investimentos em patrimônio, modernização e restauração
    do estádio.Não é a toa que recentemente em pesquisa da revista Placar, cujo foi se avaliada estrutura dos clubes e ESTÁDIOS,o Beira Rio esteve entre os três melhores, junto como Maracana e Engenhão.Abraço e legal seu blog.

     
  • At 5:30 PM, Anonymous Anônimo said…

    Ah outra, se você quiser ver todo esse trabalho de reforma do estádio que já foi feito, e o projeto futuro no complexo gigante, entre em www.internacional.com.br passe o mouse no link patrimônio( que está bem encima em uma linha horizontal) e depois em modernização do complexo beira rio .Abraço

     
  • At 5:50 PM, Anonymous Anônimo said…

    Ou simplesmente nesse link

    http://www.internacional.com.br/pagina.php?modulo=4&setor=34&secao=82


    recheado de fotos mostrando o beira rio do futuro, e de fato mostrando como é o Beira Rio e suas intalações por dentro.Vale a pena conferir.

     

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