Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

<

sábado, abril 14, 2007

Cacildis!

Cacildis! Pra que que eu fui postar esse negócio de dinheiro da tv, hein?

Hahahahahaha...

Bom, estou escrevendo como post em resposta, parcial, aos comentários do Victor. E fico aqui pensando com meus botões e teclas: a troco de que a FERJ deve receber 10% até dos direitos de TV?

Devolvo-te a pergunta, Victor. Eu é que não sou besta de tentar uma resposta. E nem você deve tentá-la. Pelo menos não assim, em público.

A FERJ, assim como as demais federações e a cbf, já recebe bom dinheiro por conta das taxas disso e daquilo. Salvo engano, essas taxas devem, ou deveriam, bastar para pagar a estrutura e o funcionamento da federação.

A venda dos direitos de TV não acarreta à federação nenhum trabalho extra, burocrático ou de campo. É uma transação entre clubes e emissoras, nada mais que isso. Ora, se a federação não tem o que fazer por conta disso, por que cobrar 10% - repito: dez por cento?

Talvez até fosse razoável uma taxa de, digamos, 1%, ou mesmo meio por cento, meramente simbólica. Não seria correto, claro, mas, vá lá, afinal, nós, brasileiros, somos, ou éramos (parece que deixamos de ser) generosos. Mas esse seria o motivo único para tal taxa.

Entretanto, aí está a dona federação a papar 10%.

Será que a Paulista também papa seus 10%? Nessa altura do campeonato acredito que sim.

A verdade verdadeira é que hoje essas entidades apenas parasitam os clubes e nada, ou muito pouco, dão em troca.

Na Libertadores a CONMEBOL pega 10% de cada renda, a federação estadual pega 5% e a confederação, a cbf, pega mais 5%. Portanto, quando eu compro prazeroso um ingresso pra ver um jogo do meu time pela LA, estou dando 1/5 desse valor, a “quinta”, para a cartolagem inútil e parasita.

E são esses cartolas, é essa corja, que domina e decide os destinos do futebol no Brasil e na América do Sul. É bom dizer que a CONCACAF não é diferente.

Há trocentos anos atrás participei da direção de uma entidade de profissionais da área de marketing. Fui um dos fundadores, fui diretor em várias gestões e... Basta! Chega! É cansativo demais. Tem-se que doar as noites preciosas para coquetéis e encontros diversos, conversas furadas e fiadas, conversas profissionais, um saco, enfim. Haja paciência. E cadê o tempo? Cadê o tempo para o casamento?. Para a vida familiar? Para prazeres simples, como assistir à tv, ler um livro, coçar o saco, simplesmente, passar algumas horas de bermuda ou moleton ou calção ou, maravilha das maravilhas, sem roupa alguma, zanzando pela casa em absoluta liberdade? Cadê o tempo para essas coisas?

Já repararam como esses caras estão sempre de paletó e gravata? Empertigados? Em eternas poses de seres responsáveis e donos do mundo?

O que move alguém a dedicar anos e anos, uma vida inteira, a uma federação? A uma confederação? Tudo isso é vontade de servir?

Ou se servir?

E por aqui eu paro, pois já fui além do que deveria e queria.


.

Marcadores:

<

sexta-feira, abril 13, 2007

Direitos de TV no Rio - o que está por trás?

A seguir transcrevo duas matérias do site Comunique-se, voltado para jornalistas.




Rede Record oficializa proposta por campeonato estadual do Rio de Janeiro

Tiago Cordeiro

Na quarta-feira (4/04), a TV Record enviou uma proposta oficial para a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro pelo campeonato estadual. O objetivo seria obter os direitos exclusivos de transmissão durante 2009, 2010 e 2011 por R$ 45 milhões por ano. A emissora enviou comunicado oficializando a oferta publicamente.

“O objeto da presente proposta é a cessão de todos os direitos de captação e transmissão exclusiva por televisão, incluindo todas as propriedades disponíveis, TV aberta, fechada (cabo, MMDS, DTH, PPV e demais sistemas), internet, publicidade estática, telefonia e demais mídias para todo o território nacional e para o exterior de todos os jogos do Campeonato Carioca nas temporadas 2009, 2010 e 2011”, diz o anúncio.

De acordo com o jornal Lance, a proposta da Rede Globo seria de R$ 30 milhões. Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes, foi procurado pela reportagem, mas não atendeu os telefonemas. A assessoria da TV Globo informou que a emissora não comenta contratos ou valores. A assessoria da Ferj também não foi encontrada para comentar o assunto. Este ano, a TV Record perdeu a disputa com a Globo pelo campeonato paulista e pela Copa do Mundo, mas obteve o direito de transmitir as Olimpíadas de Londres, em 2012.

Clubes
Os representantes do Flamengo e do Fluminense não foram encontrados nesta quinta-feira. A assessoria do Vasco informou que o presidente do clube, Eurico Miranda, já foi procurado pela Record, mas que o resultado desses entendimentos ainda não poderia ser divulgado.

“É sempre bom para o produto futebol ter concorrência e o valor é atraente. Mas os clubes têm uma longa história com a Rede Globo e creio que precisamos analisar melhor os detalhes da proposta”, declarou Bebeto de Freitas, presidente do Botafogo, ao Lance.

Record News
A TV Record recebeu a autorização do governo para mudar o nome da Rede Mulher para Record Notícias, que será o novo canal da empresa, nos mesmos moldes de Band News e Globo News. De acordo com a assessoria da emissora, os estúdios da antiga rede ainda não começaram a ser modificados para sua nova função.

O canal opera em TV aberta e também é recebido por operadoras de cabo, o que permite que a Record não seja afetada pelo domínio da Globo no setor da TV por assinatura como ocorreu com o canal da Bandeirantes.





Record oferece mais, mas Globo leva transmissão de jogos do Rio

Tiago Cordeiro

Mesmo após oficializar publicamente uma proposta de R$ 45 milhões, a TV Record não conseguiu tirar os direitos de transmissão do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro da Rede Globo. De acordo com a assessoria da TV Globo, a emissora poderá transmitir o campeonato carioca até 2011.

Segundo o colunista da Veja Lauro Jardim, a TV Globo deve pagar R$ 35 milhões por temporada, mais do que a sua proposta original de R$ 30 milhões. Nas últimas negociações sobre direitos de transmissão de campeonatos esportivos, a TV Record tenta sempre aumentar os valores envolvidos.

Embora a Record tenha oferecido um valor maior do que a Globo, a assessoria de imprensa da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro explicou que a emissora carioca teve prioridade porque adiantou a verba do contrato de 2008 para alguns clubes. "Foi um processo aberto, sem segredos", afirmou a assessoria.

A Record informou que só vai se manifestar quando a FERJ oficializar a decisão.

Embate
A TV Record obteve em março os direitos de transmissão das Olimpíadas de Londres, em 2012. No mesmo mês, a Folha de S. Paulo chegou a informar que a emissora processaria a FIFA por ceder os direitos de transmissão para a Globo mesmo com a rede de Edir Macedo oferecendo uma quantia maior. A Record não confirmou a informação.

Normalmente, tanto clubes quanto federações julgam não apenas a quantia de dinheiro, mas também a audiência das emissoras envolvidas no processo.



.

Marcadores:

<

quarta-feira, abril 11, 2007

Ética e omelete


Pegue três ovos, ou dois, o que talvez seja melhor nesses tempos bicudos de odes à saúde perfeita, que nos levam a acreditar, inconscientemente, que comendo pelas tabelinhas mágicas que a imprensa publica seremos eternos. Eternos para sempre... Com direito a redundância, mas não a um quindim.

Corte o queijo ou a mussarela, pique a cebola e o tomate, se gostar e quiser um pouco de “saudabilidade”. Uma pitadinha de sal, caso o queijo ou a mussarela já não a tenham o suficiente. Acenda o fogo, coloque a frigideira, deixe-a ficar bem quente antes de colocar um pouco de azeite, mais saudável e tão gostoso quanto a manteiga. E com aquele sabor único que só o azeite de oliva proporciona.

Enquanto a frigideira esquenta, quebre um ovo, despeje clara e gema em pequena tigela, quebre outro ovo, repita o restante, agite bem com um garfo, se você for simples, ou com uma batedeira especial, se você for moderno e, mais que isso, um metrossexual. Diminua o fogo sobre o qual está a frigideira e despeje os ovos mexidos e já com a pitadinha de sal, se tiver sido necessária, na frigideira quente onde o azeite espalhou-se educadamente. Em seguida, coloque as fatias de queijo, passando-as antes pela tigela, onde vão rapar o que ficou de ovo mexido. Tampe a frigideira e aguarde um pouquinho, antes de destampá-la e dobrar a massa cheirosa e apetitosa.

Enquanto isso acontece no escurinho da frigideira, observe o cenário. Um belo e saboroso prato está em fase final de preparo. Em poucos minutos estará sendo saboreado, acompanhado por um vinho, um pedaço de pão e uma saladinha. Ao lado dessa promessa em andamento, temos um cenário de terra arrasada ou quase isso, dependendo da habilidade e cuidado no preparo que você, chef ocasional e espectador do Oliver, tem. Pia suja, tigela suja, facas idem, com as quais queijo, tomate e cebola foram cortados e picados. E, sobretudo, vítimas mudas de “tudo isso que está ali”, os ovos quebrados, ou melhor, suas cascas, despidas de seu conteúdo vivo.

Barriga cheia, satisfeito, recorde-se da omelete e transponha seus elementos e processo de produção para o atual momento no mundo das transferências de atletas de futebol. A analogia é simples e tem lá sua validade. Nela, os ovos quebrados representam o velho sistema escravocrata vigente durante a existência da famigerada “lei do passe”. A omelete prestes a sair da frigideira, ou da omeleteira, já que você tem um batedor especial e declarou-se metrossexual, como o Beckham, representa a nova realidade do jogador como funcionário, como se fosse um executivo qualquer de uma empresa qualquer. O mundo da bola, acostumado e saudoso da escravidão, chia, reclama, proclama aos quatro ventos que a ética está sendo pisoteada e que os contratos não estão sendo respeitados e que os piratas estão agindo despudoradamente, tirando jogadores daqui e dali pela atração do dinheiro, nesse caso, mais do que nunca, o legítimo vil metal. E bota vil nisso.

As acusações se multiplicam, assim como os pedidos de punição para os piratas. Muitos acusadores não olham para suas próprias realidades e, convenientemente, esquecem seus momentos “piratas”. Algumas colocações beiram, ou até ultrapassam o ridículo, particularmente as que pregam que um time interessado em um atleta deveria primeiro procurar e conversar com os chefes do atleta pelo qual tem interesse, antes mesmo de falar com esse atleta e seu procurador, agente ou empresário.

No mundo real, uma empresa faz um convite a um profissional para mudar de emprego sem ficar, previamente, consultando seus superiores. Teria até muita graça, diga-se de passagem:

“Olá, Fulano, como vai? Olhe, estou ligando porque estamos interessados em contratar o Beltrano, seu diretor de marketing. Tudo bem para você?”

Ao que o outro, estupefato, responde que isso é inadmissível, onde já se viu, nossas empresas são concorrentes, ele conhece nossos segredos, patati patatá e por aí vai. Sem chance, não é mesmo?

Com a libertação dos jogadores, digo, com o fim do passe, eles entraram no mundo real de todos nós. Há diferenças, claro. Para começo de conversa, a carreira de um jogador tem uma duração média de 8 a 10 anos como geradora de renda bastante para, no caso dos mais afortunados, propiciar a formação de alguma poupança. Com pouco mais de trinta anos, no auge da vida, da forma, da capacidade intelectual e produtiva, um jogador pára. Não pode mais jogar bola, sua profissão primeira, única e, geralmente, última. Então, essa janela entre os 20 e os 30 anos de idade, um pouco mais para os poucos muito bons, precisa ser aproveitada ao máximo, o que antes acabava sendo impossibilitado pela posse do passe por um clube.

Nessa nova realidade não tem mais lugar as velhas práticas de outrora. Não há porque o interessado falar primeiro com um clube antes de falar com o jogador e seu representante. Não tem lógica e a ética nada tem a ver com isso. É uma relação trabalhista simples.

Uma das especificidades do mundo da bola é a existência da multa contratual, muito justa, por sinal. Se o atleta quiser mudar antes de vencer seu vínculo contratual, paga uma multa rescisória e ponto final, vai cuidar da vida em outra freguesia.

Simples, limpo, higiênico, transparente.

Se o dinheiro da multa sai de seu bolso, do bolso do empresário ou do bolso para o time onde vai jogar, é irrelevante. Dinheiro não tem cara, cor, ideologia. Basta que seja obtido por vias legais.

E com isso tudo acontecendo, a ética escravagista fica perdida, sem rumo, sem lenço e sem documento.

Da mesma forma as cobranças tão pueris quanto eternas de torcedores pregando “amor à camisa”, “respeito ao clube” e outras expressões famosas e ao gosto das torcidas, as mesmas torcidas, com as mesmas pessoas, que ao primeiro erro irão crucificar o atleta e que, se no futuro estiver em dificuldades, irão ignorá-lo solenemente, afinal, o cara ganhou muito dinheiro, ele que se vire. Essa é a lógica do torcedor. É justo que o atleta tenha a sua contrapartida.

Tão ou mais cruel que a lógica da torcida, é a prática dos dirigentes e treinadores. Estão se lixando para o jogador, ignoram redondamente seus muitos anos de bons serviços, quando, por culpa de sua incompetência, geralmente, a situação aperta e a economia faz-se necessária. Aí, o primeiro que roda é o atleta mais velho, com mais tempo de casa e, geralmente, salário maior. Mandam-no embora sem mais essa nem aquela e contratam dois ou três jovens jogadores, a preço de banana no auge da safra.

É justo, também aqui, que o jogador tenha a sua contrapartida para isso.

A nova realidade é boa, é justa, é interessante, inclusive, para os clubes. Basta usar a cabeça e trabalhar de acordo. Mas, infelizmente, e não por acaso, a maioria dos dirigentes do futebol brasileiro preferem chorar e reclamar e clamar pela volta dos grilhões do passe. Nada aprenderam com 1888. E já tiveram tempo de sobra para isso. E pior que eles são os torcedores em sua maioria, que ignoram, para os outros, o fim da escravidão.

Nesse novo mundo, ético é dar boas condições de trabalho, cumprir o que foi prometido, pagar em dia. O resto é conversa fiada.


Jogue os restos no lixo e boa refeição. Saboreie a omelete, ela está ótima.


.

Marcadores: