Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, maio 02, 2008

Enchendo os olhos... e o cofre


Ontem acabou a safra 2007 de balanços das empresas brasileiras.

Entre os grandes clubes paulistas faltava vir a público o balanço do Santos, que foi publicado ontem no Diário Oficial do Estado. O Palmeiras antecipou-se e publicou seu balanço em 20 de março. Em meados de abril foi o Corinthians, que inovou e publicou também no Estado de S.Paulo e na Folha de S.Paulo, em seus cadernos de economia. Espaço caro e de alta visibilidade, mas coerente, apesar da despesa, com a política de transparência adotada por Andrés Sanches, dando a ela um pouco de publicidade.

A política de divulgação da Sociedade Esportiva Palmeiras é exatamente oposta, mas isso fica para outro post.

O São Paulo publicou seu balanço em 23 de abril, usando como veículo de massa o Diário de S.Paulo, mais exatamente seu Caderno de Esportes (o Diário Oficial é obrigatório e boa parte das empresas também publica no DCI).

Esse balanço era aguardado pelo mercado com alguma expectativa, não só por ver o desempenho do clube, mas para ver o impacto das vendas de Breno e Ilsinho sobre o resultado financeiro, juntamente com a adesão à Timemania. Desde sua publicação, algumas matérias a respeito foram publicadas em sites e jornais, entre as quais destaco artigo na Folha de S.Paulo em e post do Maurício Bardella no site Futebol & Negócio, cujo link está na lista de Favoritos ao lado. Em relação a essas duas matérias tinha algumas divergências, mas antes de expô-las preferi conversar com algum representante do São Paulo F.C. a respeito do balanço. Para isso, ninguém melhor que o responsável por sua execução, Sérgio A. F. Pimenta, Gerente de Orçamento e Controle do clube.

Antes de conversar com o Sergio Pimenta, contei, ainda, com a valiosa contribuição do Valério Teixeira, que trabalha na área de auditoria e consultoria tributária.



Considerações gerais sobre o balanço

Um balanço é uma peça contábil de relativa simplicidade, mas que pode ser, também, de extrema complexidade, dependendo das intenções e maneiras de alocar números de quem o faz. Para a maioria das pessoas, e eu estou incluído nessa maioria, o que interessa num balanço é saber quanto ganhou, quanto gastou, quanto sobrou ou faltou e, sofisticando um pouco mais, como e porquê. Por isso mesmo, a parte dos balanços mais vista por todos é o quadro chamado Demonstrações do Resultado, ou como nos últimos balanços do São Paulo, Demonstrações do Superávit. Aproveito para destacar que os clubes são entidades sem fins lucrativos, portanto não apresentam lucros e sim superávits, e estes, quando acontecem, devem ser investidos exclusivamente no próprio clube.

O que salta à vista numa primeira olhada é a magnitude dos números: o clube fechou 2007 com uma Receita Total no valor de R$ 190.079.000,00, aqui incluídas a Receita Financeira e, principalmente, o aporte de R$ 12.440.000,00 em Patrocínios referentes à Lei de Incentivo ao Desporto. Esses recursos serão utilizados em três projetos no Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia, que são:

- “REFFIS” próprio para a unidade, o Centro de Reabilitação Desportiva, Fisioterárapica e Fisiológica;

- Estádio com vestiários, arruamento e estacionamento;

- Alojamentos para atletas, ampliando a atual capacidade.

Desse valor total arrecadado, apurou-se um superávit excepcional, no valor de 33,7 milhões de reais. Com a adesão do clube à Timemania, entretanto, houve a obrigatoriedade legal de reconhecer dívidas fiscais e previdenciárias no valor de 29,9 milhões. Com essa medida, o superávit ficou reduzido a 3,8 milhões de reais, ainda assim um resultado excepcional, considerando as despesas e investimentos realizados pelo clube.



A adesão à Timemania

Os valores confessados como dívidas pelo São Paulo foram somados a mais 14 milhões de reais cujo pagamento já estava pactuado e sendo realizado normalmente, por meio de acordos com INSS e Receita, alcançando o montante de cerca de 43 milhões de reais. Esse valor será pago no decorrer de 240 meses, basicamente com a verba a que o clube terá direito mensalmente na arrecadação da nova loteria.

A expectativa da direção, com base na previsão da Caixa Econômica Federal, é que em pouco tempo a cota a que o clube terá direito será suficiente para gerar um saldo mensal, aproveitável para reduzir o tempo de duração dos pagamentos. Nesse início de operações, ainda longe de estar plenamente implantada, a Timemania vem rendendo ao São Paulo cerca de 130.000 reais mensais, restando ao clube o desembolso de pouco mais de 50.000 reais para cumprimento de seus objetivos.

Ao mesmo tempo, amparado por liminar concedida ao Sindicato dos Clubes Profissionais de Futebol, as dívidas confessadas no momento da adesão seguem como pendências jurídicas, parte delas com grandes possibilidades de vitória.

(Aproveito para esclarecer que os comentários e projeções desse bloco “A adesão à Timemania” são de autoria exclusiva desse blogueiro.)



Resultados Operacionais

Vamos ao que realmente importa e que são as Receitas Operacionais, obtidas em função das atividades-fim do clube.

(Daqui em diante os valores serão expressos em milhares de reais.)

A Receita Operacional total alcançou o valor de R$ 176.569, com um crescimento de 44,4% sobre 2006. Esse total provém de três diferentes unidades de negócio (ponto que vai merecer uma abordagem futura em outro post):

Unidade de Negócio

2007

2006

1 – Futebol Profissional e de Base

R$ 146.426

R$ 97.768

2 – Sociais e Esportes Amadores

R$ 15.940

R$ 14.072

3 – Estádio

R$ 14.203

R$ 10.462


Estádio

Os números da receita gerada pelo Estádio Cícero Pompeu de Toledo demonstram a importância de um clube ter sua própria casa, indubitavelmente. E também os riscos, pois a construção hoje é absurdamente cara e a manutenção tem um custo elevadíssimo – no caso do Morumbi nada menos que R$ 6.532, valor que não inclui, naturalmente, os gastos em reformas e ampliações, alocados em outra parte do balanço. O crescimento de 36% nas receitas do Morumbi foi fortemente alavancado pela locação dos camarotes, principalmente, colocados na mesma rubrica que as cadeiras cativas e que passaram de R$ 4.795 em 2006 para R$ 7.129 em 2007, um crescimento de 48,7%. Essa receita equivale, grosso modo, à renda bruta de duas finais de Libertadores com casa cheia. O clube optou por alocar ao Estádio – e não ao futebol – a parcela da verba de TV recebida do Clube dos 13 e FPF correspondente à publicidade estática – as placas colocadas no entorno do gramado. Esse ponto merece ser lembrado quando for abordado o faturamento do Futebol.

Outra receita importante é conseguida com a locação do estádio para jogos de outras equipes, principalmente o Corinthians, e shows diversos. A realização de shows, importante geradora de receita em 2005 e 2006, foi baixíssima ou mesmo nula nesse exercício, o que demonstra a importância das demais fontes geradoras de receitas do estádio (nota do Editor).



Sociais e Esportes Amadores

Essa é a área tenebrosa nos clubes brasileiros. Praticamente todos os balanços vêm fortemente carregados de despesas nessa área, gerando déficits que comprometem seriamente a estabilidade do próprio clube e prejudicam sua principal atividade, o futebol. No São Paulo, em 2007 e pela primeira vez (ao menos em muitos anos), essa área gerou receita para o negócio como um todo, com uma despesa total de R$ 14.456 contra uma receita de R$ 15.940, como vimos acima. Contribuiu para isso, principalmente, uma rigorosa política de contenção de custos que, ao mesmo tempo, não pode permitir que os equipamentos e instalações não atendam às necessidades e desejos dos associados, associada a um aumento nas contribuições dos associados.

Pelo que pode ser visto em balanços de outros clubes, atingir o ponto de equilíbrio entre receita e despesa nessa área já seria suficiente, por si só, para dar uma boa alavancada em suas contas.



Futebol Profissional e de Base – As Receitas

Essa é a razão de ser do São Paulo e a menina dos olhos do clube, melhor ainda no plural, as meninas dos olhos.

O número realmente espetacular de R$ 146.426 deve sua grandeza aos R$ 76.106 arrecadados com transferência de direitos federativos, principalmente as transferências de Breno e Ilsinho.

Item

2007

2006

Negociação de atestados liberatórios

76.106

21.789

Direitos de transmissão de TV (+ 2.142 em “Estádio”)

24.855

27.780

Publicidade e Patrocínio

19.628

18.249

Arrecadação de jogos

12.464

18.536

Licenciamento da marca

5.174

3.857

Prêmios, Sócio-Torcedor, Outras receitas

8.199

7.557

Totais

146.426

97.768

Se tirarmos os valores de negociação de atletas, as receitas de 2007 e 2006 caem, respectivamente, para R$ 70.320 e R$ 75.979, ou seja, em 2007, mesmo com o título brasileiro, o São Paulo teve uma queda de receita da ordem de 7,5% em relação ao ano anterior. Essa queda é devida ao menor faturamento com TV e, principalmente, à menor arrecadação com bilheteria. Nos dois casos, a razão principal é a mesma: a eliminação nas oitavas-de-final na Copa Libertadores.

Em 2006, somente a renda da final contra o Internacional atingiu um valor superior a três milhões de reais, sem contar as rendas dos jogos de quartas e semifinal. Some-se a isso a receita pelas transmissões e fica explicada a diferença (nota do Editor).

Em tese, Olhar Crônico Esportivo acredita que é com essas receitas básicas – TV, Bilheteria e Marketing (patrocínios, publicidade e licensing) que um clube deve sobreviver e crescer. É dessa forma que os clubes europeus trabalham e têm suas receitas auferidas. Ao vermos os rankings de receitas dos clubes europeus notamos duas coisas: eles não incluem os valores auferidos com transferências de atletas e não há “bilheteria”, e sim “matchday”, um complexo de receitas que vai além do ingresso para o jogo. Entretanto, estamos no Brasil, e para nossos clubes formar e negociar atletas é condição sine qua non para sobreviver, para manter o futebol operacional, para crescer, em suma. Apesar disso, o caminho para os clubes brasileiros se fortalecerem está justamente na ampliação das receitas oriundas dessas fontes “européias”. Elas são mais consistentes e previsíveis. Trabalhar em cima delas permite, também, que um clube não fique refém da necessidade de títulos. Afinal, campeão há somente um em cada competição, ao passo que boas campanhas são acessíveis a muitos clubes dentro do mesmo campeonato.

As receitas de TV e Patrocínio do São Paulo são semelhantes às obtidas pelos outros grandes clubes brasileiros, em especial Flamengo, Corinthians, Vasco e Palmeiras (com o São Paulo, são os clubes do Grupo I do Clube dos 13, que recebem as maiores cotas de TV, como o leitor pode ver em diversos posts a respeito nesse blog).

Esses valores terão substancial aumento em 2009, graças ao novo contrato de cessão de direitos de TV, em fase final de negociação entre o Clube dos 13 e a Globo, e graças, também, ao novo contrato de patrocínio de camisa, sobre o qual se especula muito, mas nada se sabe de concreto. Como já foi postado em mais de uma oportunidade, esse Olhar Crônico Esportivo acredita que a renovação com a LG ou a assinatura com um novo patrocinador, deverá ultrapassar o patamar de 20 milhões de reais, valor que poderá ser bem alavancado por uma temporada brilhante, em especial na Copa Santander Libertadores.

Outro bom caminho, praticado com crescente sucesso por Internacional e Grêmio, é o investimento na categoria “sócio-torcedor”. No São Paulo, embora já tenha alguns anos desde sua implantação, o número de sócios-torcedores ainda é pequeno diante do tamanho da torcida, como pode ser visto pelo valor lançado no balanço: R$ 3.534 – essa é uma área com forte potencial para crescer, mas, na visão desse blog, precisa ser melhor trabalhada.

Finalmente, o que deve ser a “menina-dos-olhos” do marketing dos grandes clubes brasileiros: o licensing, a renda auferida pelo licenciamento do uso da marca para os mais diferentes objetos, desde a tradicional camisa “número 1” até carrinhos-de-bebê e poltronas reclináveis para uso doméstico. Embora grande para os padrões brasileiros, o valor auferido pelo São Paulo com essa atividade, R$ 5.174 – equivalente, grosso modo, a dois milhões de euros – é minúsculo diante das possibilidades que o mercado brasileiro oferece e, muito, muito distante dos valores e do peso que essa receita tem para os clubes europeus. Apesar de pequeno em números absolutos, cabe destacar que houve um excelente crescimento de 2006 para 2007: nada menos que 34%, com a perspectiva de manter-se nesse patamar, ou mesmo crescer ainda mais.



As Despesas do Futebol Profissional e de Base

Faturamento alto, despesa alta. Tirando poucos e excepcionais negócios em fase inicial, com mercado consumidor explodindo e margens de lucro estratosféricas, essa é a regra no mundo real dos negócios: para faturar muito, tem que gastar muito, também. A diferença entre lucro e perda, entre os melhores e os piores ou simplesmente bons, está na otimização das despesas e em sua manutenção em níveis ótimos, nem para cima, comprometendo os ganhos, muito menos para baixo, comprometendo a qualidade dos produtos ou serviços.

As despesas do São Paulo são elevadas e estão concentradas no foco do negócio principal do clube, o futebol.

No item Pessoal houve um grande salto de 2006 para 2007, que foi apontado negativamente por vários analistas. O valor passou de R$ 23.028 para R$ 37.747, ou impressionantes 64% a mais. A uma primeira olhada, isso significaria um brutal crescimento na massa salarial. Todavia, uma olhada igualmente rápida aos itens Encargos Trabalhistas e Benefícios, e outra olhada aos Direitos de Uso de Imagem, mostrariam um módico e consistente crescimento de aproximadamente 20%. Diante disso, pode-se estimar que os gastos com Pessoal tenham passado de 23.028 em 2006 para algo como 27.000 em 2007.

Como explicar, então, a diferença para os 37.747 lançados no balanço?

A explicação é simples: o São Paulo recebeu valores cheios nas transferências de atletas, e assim contabilizou-os, repassando aos mesmos suas partes nos Direitos Econômicos. Os atletas que receberam como “pessoas físicas”, e aqui foi importante a explicação do executivo do clube para entender o quadro, foram pagos através da Folha de Pagamentos do clube, e os valores foram alocados na rubrica Pessoal, o que acabou gerando o valor superior a 37 milhões que tanta atenção chamou.

Outros atletas, receberam seus direitos como pessoas jurídicas, também repassados pelo clube, mas alocados em item próprio no balanço - Participação de Atletas em Direitos Econômicos – num total de R$ 11.684, que não existiram em 2006.

Como o São Paulo não abriu esses números, a conta simples considerando os itens descritos, permitiu-nos calcular o valor do item Pessoal em cerca de R$ 27.000, implicando num crescimento de aproximadamente 17%.

Como curiosidade, para chegar ao valor total da famosa “Folha Salarial” tão comentada nos programas de rádio e TV e nos sites e jornais, esse Olhar Crônico Esportivo somou os valores de Pessoal, Encargos, Benefícios, Prêmios, Direitos de Arena e Direitos de Uso de Imagem, e o valor obtido é apreciável: R$ 56.122. Futebol é um negócio caro, sem dúvida, mas esse total de custos com pessoal é plenamente compatível com a realidade e com as receitas do São Paulo F.C.



O custo das divisões de base

Outra despesa elevada e que justifica a negociação de atletas jovens, é justamente o seu custo de formação. Em 2005 o São Paulo inaugurou o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia. Desde então, o item Custo de Formação de Atletas, consolidado à parte, mas com suas despesas divididas em diferentes itens no Futebol Profissional, vem crescendo de forma significativa:

2005

2006

2007

Custo de formação de atletas

R$ 4.939

R$ 7.505

R$ 9.236

Nesses três últimos anos, o custo total de formação de atletas atingiu R$ 21.680, ou seja, pouco mais que o valor líquido recebido pela transferência de Breno para o Bayern Munchen.

Em 31 de dezembro de 2007, o clube mantinha 128 jovens atletas no plantel das categorias de base – 128 centros de custos, podemos dizer, mas também 128 possíveis futuros geradores de receitas.

Na visão desse Olhar Crônico Esportivo é muito simples: seria ótimo manter Breno e Ilsinho no time tricolor, mas não seria justo para os atletas, uma vez que o São Paulo e nenhum outro clube brasileiro teria condições de pagar-lhes o que ganham na Europa. Ao mesmo tempo, sempre considerando as condições do mercado brasileiro, o clube tem necessidade de negociar atletas formados na base, mesmo porque, como podemos ver, o custo das divisões de base é muito elevado e precisa ser coberto.



Dividas e dúvidas

Um outro ponto que chamou a atenção foi a dívida com bancos, próxima de trinta milhões de reais, ou pouco menos de 25 milhões, pois parte já foi saldada. Dívidas levam a “despesas financeiras” e embora esse item assuste um pouco, ele é composto não só por juros, mas também por perdas cambiais. Quando um atleta é transferido, sua negociação em dólares ou euros é registrada pelo valor do câmbio no dia em que o contrato é assinado. Porém, tem sido freqüente que o valor recebido pelo clube algum tempo depois, apresente diferença negativa, em função de sucessivas valorizações do real ou desvalorizações do dólar, como queiram.

Outro ponto importante, é que boa parte do perfil dessa dívida foi alongado e toda ela foi negociada com taxas de juros razoáveis o bastante para não levar o clube a saldá-las com as disponibilidades de caixa. Em parte, isso foi explicado pelo gerente Tricolor, que disse, também, que é comum os clubes terem problemas com seu fluxo de caixa no início do ano, período em que a temporada ainda não “esquentou”, mas que costuma exigir desembolsos elevados, inclusive com novos atletas.

A esse respeito, Olhar Crônico Esportivo acrescenta o problema vivido na relação São Paulo/LG nos primeiros meses de 2007, que coincidiu com a eliminação precoce na Copa Libertadores, logo em seguida à saída da disputa do Campeonato Paulista.

Como a patrocinadora suspendeu seus pagamentos por dois ou três meses, e a isso somou-se a não realização de receitas nas duas competições, é natural que o clube tenha recorrido a bancos.

Por outro lado, apesar do que foi dito em matéria da Folha de S.Paulo em 25 de abril, o São Paulo não pegou adiantamento de cotas de TV com o Clube dos 13 – informação que esse blog já havia divulgado em 20 de março desse ano.



Conclusão e comentários

É inegável que a posição do São Paulo é excelente e quase única no cenário brasileiro. Dentro desse cenário e com esses resultados, principalmente para quem não vivencia intimamente o dia-a-dia do clube e a enorme quantidade de problemas e dores-de-cabeça que gera a administração de uma grande equipe de futebol, é até difícil fazer críticas. Críticas justas, claro, e que sejam plausíveis.

Considerando que vários aspectos já estão sendo conduzidos da melhor maneira possível, com total profissionalismo, eu, particularmente, gostaria de destacar três pontos que considero fundamentais, não só para o São Paulo, mas para todos os grandes clubes brasileiros:

- a importância de avançar na Copa Santander Libertadores o máximo possível; é algo óbvio, mas quando vemos o impacto negativo de uma eliminação precoce em forma de números não realizados, essa obviedade ganha muito mais força;

- alavancar as receitas de bilheteria, principalmente no Campeonato Brasileiro; mais que nunca os clubes, e o São Paulo em particular, devem buscar meios de incentivar seus torcedores a comparecerem aos estádios; essa receita faz muita diferença;

- reforçar o marketing, principalmente no licenciamento de produtos com a marca do clube; o licensing pode crescer quase sem limites, teoricamente; o mercado consumidor é enorme e está em crescimento, com a chegada a ele de novas levas de consumidores, e o produto futebol, que já está em alta, pode crescer ainda mais junto às pessoas.

Infelizmente, olhando e analisando esses números, fica clara, também, a necessidade de continuar negociando atletas agora e por mais um bom tempo.

Mesmo o São Paulo F.C., com seu balanço que encheu os olhos e – por que não? – também o cofre do Morumbi.


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6 Comments:

  • At 6:48 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emersom, excelente e completa análise. Parabéns.

    Creio que concordamos com a essência de meu post no Futebol & Negócio, que é o questionamento sobre a estrutura de receitas em comparação à mais equilibrada e menos arriscada estrutura de receitas dos grandes clubes europeus.

    O São Paulo, dentro de nosso cenário, é o clube que mais recursos aplica e mais resultados obtém com a formação de atletas e as receitas resultantes desse investimento, a ponto de, como você disse, a transferência de um jogador como Breno ser suficiente para praticamente bancar três anos do custo de formação de jovens jogadores. Sem dúvida é o clube que melhor "joga" dentro dessa realidade e colhe os dividendos de sua competência.

    Outro fator que não mencionei em meu post no Futebol & Negócio mas que chamou minha atenção: embora a área social e de esportes amadores do São Paulo apresente superávit, há uma prática contábil diferente da adotada, por exemplo, pelo Corinthias. O São Paulo aloca independentemente despesas administrativas no valor de R$ 11,4 Milhões em 2007(portanto sem relação direta com a área social). O Corinthians, por sua vez, agrega essas despesas ao custo do depto. de esportes amadores e clube social, aumentando consideravelmente o déficit dessa área. Sem questionar os critérios aodtados, se o São Paulo adotasse o mesmo procedimento adotado pelo Corinthians, seu déficit nessa área seria de quase R$ 10 Milhões.

    Mais uma vez, parabéns pela complexa e completa análise.

     
  • At 8:00 PM, Anonymous Anônimo said…

    Ótimo trabalho, Emerson.

    Só fazendo alguns apontamentos:

    *Ilsinho não saiu da base do SPFC. Foi contratado, já com 20 anos, após se desligar do seu clube formador - o Palmeiras.

    *Esse aumento de gastos com a folha salarial de 2006 para 2007 não explicaria o elenco "enxuto" em 2008 como um tentativa de manter um certo patamar de salários pagos aos jogadores do elenco sem com isso aumentar ainda mais o valor total da folha?

    *Do mesmo modo, isso não explicaria os anseios do presidente em que os jogadores da base sejam mais aparoveitados? Outro dia comentei no JA que o PVC tinha analisado essa aparente incoerência entre o desejo da diretoria e a falta de maior disposição do Muricy em lançar os garotos. Vale lembrar que esse ano, o treinador apenas utilizou um jogador jovem, o Sérgio Motta, e em apenas uma partida, contra o Juventus, no Morumbi.

    Abraço

     
  • At 10:24 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson, em entrevista à Estação Tricolor, Julio Casares disse que o valor aproximado do patrocínio de camisa será em torno de 25 milhões. E pode, com sorte (leia-se concorrência) chegar a 30.

     
  • At 9:02 AM, Blogger Emerson said…

    Obrigado, Maurício e, sem dúvida, concordamos sobre a necessidade de nossos clubes mudarem, de forma consistente, sua estrutura de receitas.
    Incomoda-me o açodamento doentio com que dirigentes vão "à luta" por um título, fazendo o papel de torcedores tresloucados e ignorando que o preço de uma conquista pode inviabilizar anos de estabilidade que, esses sim, levam à conquista de mais títulos.

    Algo que foi abordado no Futebol & Negócio - não lembro se por você mesmo - como o preço de "vencer a qualquer custo".

    Quanto a essa divisão dos custos administrativos, você pode ver que cada Unidade de Negócios tem seus próprios custos separados e há, também, os custos corporativos, colocados à parte. Essa formatação permite uma visualização bem melhor do comportamento de cada área.
    Se todos os custos fossem jogados na conta "Social", teríamos custos mascarados e insuspeitos.

    :o)

    Lembro-me das velhas pendengas que vivíamos numa empresa multinacional onde trabalhei, entre o pessoal da "produção", a turma que "trazia o dinheiro" e o pessoal que gastava o dinheiro, o "staff". Que além de não gerar receita ainda por cima controlava os gastos das outras duas áreas.

     
  • At 9:16 AM, Blogger Emerson said…

    Rocha, não disse que Ilsinho saiu da base tricolor, o que eu quis dizer é que o clube, como todos os outros, continuará precisando negociar jovens jogadores, na maioria saídos da base. Ilsinho chegou, praticamente, como um jogador de base, ainda, sendo negociado logo em seguida.

    De ano para ano o custo do futebol aumenta por conta das conquistas e desempenho. Valorizados, os jogadores recebem propostas a toda hora e mante-los implica em pagar sempre mais. É inevitável. O elenco 2007 foi um elenco bem pago, mas não chegou a ser propriamente enxuto.

    Essa questão do uso de jogadores da base é polêmica. Eu acredito que Muricy não usa por não ter jogadores considerados prontos.

    O risco de pÔr um jogador novo e ele ser queimado é muito grande. Basta olhar o que acontece com Lulinha e as pressões que sofreram Kaká, Thiago e outros mais no São Paulo. Breno estreou e cometeu um pênalti bobo de tudo. Foi mantido, principalmente por estar pronto em todos os sentidos, tanto físicos como psicológicos.

    Jogadores como Breno e Kaká são exceções. Veja o Hernanes, por exemplo: um grande jovem jogador, mas chegou a esse ponto no decorrer de um processo. É o que eu espero que esteja se passando com Sérgio MOtta e o resto da rapaziada da base.

     
  • At 9:21 AM, Blogger Emerson said…

    Já no ano passado, a partir da renovação Reebok e seus novos valores, ficou claro que novos patamares de patrocínio chegavam ao futebol brasileiro.

    Escrevi sobre isso aqui mesmo: "Patamar europeu".
    E tornei a escrever outras vezes, inclusive projetando que o patrocínio principal poderia, sim, chegar a esses míticos 30 milhões.
    Hoje já não creio nessa cifra, mesmo que o SP conquiste a Libertadores, mas penso que o número base estará por volta de 22 milhões de reais. Com sorte, 25 milhões de reais, algo próximo de dez milhões de euros, um valor muito considerável e num patamar europeu.
    Não de Real Madrid ou Manchester ou outro dos "Top 10", mas acima ou igual, creio eu, a alguns times de ponta que disputam a Champions League, como o Porto, o Ajax, o PSV...

     

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