Um Olhar Crônico Esportivo

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sábado, junho 28, 2008

Nem tudo serão flores

Parabéns ao Clube de Regatas Vasco da Gama e parabéns, sobretudo, aos torcedores vascaínos.

Durante muitos anos associei o Vasco à imagem de Eurico. Tinha, portanto, profunda antipatia pelo clube. Estava errado, é claro, pois por não gostar de fulano não gostava da multidão. Um erro fruto da ignorância, pois eu pouco ou nada conhecia do Vasco. Tampouco conhecia algum vascaíno, por mais incrível que isso possa parecer. Tenho um primo flamenguista, em Marilia, tão fanático que já contei a história maluca e divertida do nome de sua filha, Jávea. Em Minas Gerais, terra do meu pai, tenho primos tricolores cariocas em Barbacena e Juiz de Fora; um deles, por sinal, até jogou no Flu, depois de fazer sucesso no Tupi. Um dos primos da minha tia Anita, casada com um dos irmãos da minha mãe, foi jogador do Botafogo. Seu nome? Afonsinho.

No decorrer de minha vida essas foram as ligações iniciais, e por muito tempo únicas, que tive com os times do Rio de Janeiro. O Vasco era, para mim, ilustre desconhecido, exceto pelos embates, pelas matérias de jornais, coisas do tipo. Mesmo o Vasco de Sorato não atraiu sobremaneira minha atenção. Na época, meu conhecimento maior dos times fora de São Paulo era sobre o Internacional – resquício, ainda, de Minelli e Falcão –, o Flamengo, resquício,ainda, dos grandes times e grandes jogos contra o São Paulo – e o Cruzeiro, resquício, é claro, do time que me assombrou ao derrotar fragorosamente o Santos de Pelé uma década e meia quase antes do gol do Sorato. Creio que é bom dizer que não tínhamos internet, o Brasileiro já era legal e coisa e tal, mas o Paulista ainda era, em boa parte, nossa menina dos olhos.

Comecei a tomar consciência do Vasco da Gama via Eurico Miranda, portanto, da forma mais negativa possível. Assim foi a década de 90 e os primeiros anos desse século. Somente com a chegada dos blogs é que comecei a conhecer torcedores vascaínos. A amizade virtual e a descoberta que tinha gente muito legal entre eles, levou-me a conhecer, de fato e por vontade própria, a história do Clube de Regatas Vasco da Gama. Confesso que fiquei surpreso, positivamente surpreso. A partir do conhecimento, a partir da interação com outros torcedores, minha visão sobre o clube mudou, claro que para melhor.

Aprendi a separar Eurico de Vasco. O diabo é que isso era coisa difícil de fazer, pois “Eurico era o Vasco”. Difícil, mas não impossível, e assim venho acompanhando a vida do Vasco nos últimos 5 ou 6 anos. Poucas vezes comentei a respeito do clube, pois tinha sempre que tomar inúmeros cuidados para não ferir sentimentos. Era melhor ficar quieto e nada comentar, evitando discussões tão inúteis quanto bobas.

Agora, finalmente, a situação mudou, mesmo porque o que era “situação” deixou de ser, e o que era oposição agora é a “situação”. Uma nova direção assume o comando depois de muitos e muitos anos. Inevitavelmente, faço ligações mentais entre essa mudança e a redemocratização do Brasil. Quando ela, finalmente, aconteceu, veio o desencanto para muitos, pois enorme era a expectativa sobre a queda da ditadura, do regime militar, e a implantação de um governo democrático. Muitas cabeças, algumas até coroadas, eram habitadas pela ilusão de que a mudança de governo traria a felicidade e o progresso.

Não foi bem assim. Só começamos a melhorar, de fato, depois de um duro período de sacrifícios e ajustes.

Creio que os vascaínos passarão por período semelhante. É importante que a nova direção, sob a liderança de Roberto Dinamite, tenha tempo e condições para trabalhar e reestruturar o clube. Um pouco, embora com muitas diferenças formais, como o que está fazendo Andrés Sanches no Corinthians. Os próximos tempos serão duros, talvez mais duros do que sob o reinado euriquista, pois a vida real é como é e não como sonhamos que ela possa ser.

A vitória eleitoral de ontem foi apenas o primeiro passo numa longa caminhada.

De minha parte estarei torcendo pelo sucesso de Roberto e do Vasco. Já aprendi o bastante sobre o clube, sua história, sua importância, para desejar pleno sucesso à nova administração. Como disse no título, nem tudo serão flores, mas, sem dúvida, tenho certeza que os vascaínos de todo o país estão de alma nova e confiantes nessa empreitada. E isso é o que importa, pois, como diz Muricy Ramalho, no futebol confiança é tudo.

E na vida também.

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4 Comments:

  • At 1:45 PM, Blogger Unknown said…

    Emerson,
    Como carioca que sou, sempre detestei o Vasco e, ultimamente, mais ainda por causa do Eurico Miranda. Entretanto, quero parabenizá-lo pelo belo texto que você escreveu, e apesar de toda minha ojeriza pelas coisas do Vasco, também vou torcer para que as coisas melhorem por lá, agora com o Roberto Dinamite, que merece toda a minha admiração, como jogador que foi e como pessoa humana que é.
    Abraços,
    Alfredo Dutra

     
  • At 9:43 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson:
    No nosso país a grande maioria pensa com a grande mídia. Eurico bateu de frente com ela e se tornou o inimigo a ser batido.
    Não sei que Vasco você conheceu,mas conheceu errado.
    Mas agora já passou.
    Continue idolatrando Paulo Maluf e falando mal do Lula.
    Essa é a sina de quem idolatra Rede Globo.

    Guilherme Linux

     
  • At 9:54 PM, Blogger Emerson said…

    Alfredo, acompanho o trabalho do Bebeto, que cometeu erros, como é natural, ainda mais vivendo sob a pressão em que administrações passadas colocaram o Botafogo, e tenho admiração por seu esforço.

    Torço por ele da mesma forma que torcerei pelo Roberto.

    Ambos têm em comum o fato de serem ex-atletas. Talvez nada resolvam, ao fim e ao cabo, mas é uma mudança em relação à mesmice de dirigentes esportivos por todo o Brasil.

     
  • At 9:55 PM, Blogger Emerson said…

    Pois é, Guilherme, nada como generalizar para ignorar.

    Teu comentário é muito elucidativo, particularmente ao associar-me, e a muitos outros, a Paulo Maluf.

    Mostra como você conhece tudo.

     

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