Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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quinta-feira, agosto 21, 2008

Uma visão sobre nosso hipismo em Pequim



Este Olhar Crônico Esportivo tem o prazer de transcrever uma breve visão sobre nossa participação em Pequim da Claudia.

Para quem não a conhece, antes de mais nada é Dra. Claudia Leschonski, médica-veterinária com uma vida inteira dedicada aos cavalos e à equitação.

Além de amiga querida, a Claudia foi minha segunda instrutora de equitação – a primeira foi minha também grande amiga Monica Lilly Keller – e devo muito a ambas.

Em 1996, Claudia foi membro da equipe olímpica brasileira em Atlanta, e nesse ano repetiu a dose, fazendo parte da equipe de apoio do nosso CCE – Conjunto Completo de Equitação – em Hong Kong.

Claudia tem um blog – Cavalos Entusiasmados – cujo link está entre os favoritos deste blogueiro, aqui ao lado. Leitura obrigatória e agradável para quem gosta desses seres fantásticos, aos quais o homem deve muito de sua evolução (mas essa é outra história, conversa para outra hora).

Vamos à visão da Claudia sobre como fomos em Pequim:


Minha visão do nosso saldo olímpico eqüestre:

No salto:

Rodrigo - com Rufus, um cavalo jovem (10 anos) que era apenas sua 2a ou 3a. opção, fez sua habitual apresentação brilhante, ficando com um respeitabilíssimo 5o. lugar individual.

Camilla - chegou como reserva, num cavalo que em outros tempos fora descarte de um cavaleiro amador. De preparada a passar a Olimpíada inteira no banco, acabou na final indivdual de um momento para outro, mostrou seu espetacular sangue frio e concentração, e acabou entre os dez melhores no individual.

(Não esquecendo também de que no primeiro dia nossa jovem equipe, mesmo já desfalcada de Doda, estava entre as três primeiras ao final de um dia em que dos pouquíssimos zeros três eram nossos, e era uma das favoritas para as medalhas.)

No CCE:

o nosso melhor resultado técnico de todos os tempos, a equipe mais coesa de todas. No cross e no salto, objetivamente, estamos no mesmo nível das melhores equipes: três cavaleiros zerados no cross; no salto, uma passagem com uma falta, outro cavaleiro com dois zeros, fazendo-o encerrar em 23. no individual, o melhor resultado individual para o Brasil desde 1948. Deu pra sentir que o pessoal (australianos, alemães, ingleses, franceses... ) começou a ficar de olho na gente; assim que evoluirmos ainda mais no adestramento, eles vão começar a ficar preocupados. (Já melhoramos, mas os outros melhoraram mais ainda.)

No Adestramento:

nossa primeira equipe. A amazona mais jovem de todos os tempos, todas as Olimpíadas, todos os países. Um cavaleiro que começou a vida como ajudante geral. O mérito dessa turma foi ter conseguido chegar aqui, e enfrentar os melhores do mundo com orgulho, olho no olho. Quem sentiu a atmosfera naquela arena, quinze mil pessoas e outros tantos milhões pela TV, sabe. O resto virá.

Tudo isso na raça, com zero ou quase nada de apoio oficial, sem contar com a estrutura que outros países oferecem ao hipismo.

Sete países apenas, do mundo inteiro, apresentaram três equipes eqüestres em Hong Kong, uma para cada disciplina, e o Brasil foi um deles.

PARABÉNS BRASILEIROS! !!!

Claudia



(na foto com Escudeiro do Rincão, um dos quarenta melhores cavalos de CCE do mundo neste ano olímpico de 2008!!)

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quarta-feira, agosto 20, 2008

Quando o ótimo é péssimo


Em nome de se ter nada menos que o ótimo, despreza-se o bom e acaba-se ficando com o péssimo.

Essa é, em síntese, a participação brasileira em Pequim 2008, na minha visão.

Estamos a dois dias da disputa da medalha de bronze e se ela será conquistada ou não é absolutamente irrelevante. Pelo que pude ver de alguns jogadores depois da derrota para a Argentina, voltaremos somente com o quarto lugar. Jogadores como Alexandre Pato, por exemplo, não sabem o que é uma Olimpíada. Nunca aprenderão, infelizmente para eles.

Antes de uma curta análise, dois pontos são fundamentais. Na visão deste blogueiro, a CBF é culpada por esse fracasso, assim como é culpada por uma parte dos problemas que afligem o futebol brasileiro. É uma entidade que existe para satisfazer a si própria e não para servir e dar satisfação a tudo que a sustenta e justifica sua existência: o futebol jogado no Brasil e o torcedor brasileiro, sustentáculo primeiro e último de todo esse mundo da bola em Pindorama.

Além da CBF, outra parte da culpa, mas pequena, é de Dunga, o ex-jogador promovido a treinador de repente, sem mais nem menos, sem nunca ter treinado sequer o infantil do Guarani de Bagé. E que começou sua carreira dirigindo a Seleção Brasileira de Futebol. Dois absurdos sem tamanho: um, o praticando por quem nomeou-o – e assim voltamos à origem de todos os males – e o outro dele próprio, que aceitou tal incumbência, num misto de arrogância e absoluta falta de discernimento, também conhecido como “simancol”.

Todavia, tentando esquecer tudo isso, o que tivemos, sem ir muito longe, ficando na superfície?

Dunga erigiu a seleção olímpica em torno de Robinho, reproduzindo o mesmo discurso já feito com relação à seleção principal, que no momento corre o risco de ficar fora da zona de classificação para 2010. Robinho foi elevado à condição de, primeiramente, patriota brasileiro, um exemplo para todos (leia-se Kaká), sempre servindo às seleções brasileiras. Sim, no plural, pois Dunga elegeu-o como jogador-símbolo também da seleção olímpica. Era Robinho e o resto. Robinho não veio e ficou o resto.

Perdido Robinho, sobrou Ronaldinho. Craque, maior jogador do mundo, etc, etc...

No passado, tudo isso no passado, pois, no presente é um ser humano despreparado física e mentalmente para a prática de qualquer esporte competitivo em alto nível. Nesse momento, Ronaldinho deveria estar só treinando e fazendo joguinhos amistosos cuja importância, à parte o treinamento, deveria ser proporcionar espetáculo para os moradores de uma ou outra cidade européia ou asiática. Mas não “Pequim 2008”.

Os jogos feitos pela equipe brasileira mostraram um jogador fora de forma, sem ritmo, sem gana, sem pique, um jogador com nada.

Durante meses a seleção olímpica foi um ser fantasmagórico, inexistente, exceto em projetos e discursos. Nunca existiu, até a véspera da competição. Ficou também, desde sempre, sujeita aos amores e humores de clubes europeus e seus jogadores, distante no espaço e na motivação. A alegação era que o Brasil teria o seu “melhor” nessas Olimpíadas, para trazer, finalmente, o tão desejado ouro. E o melhor do futebol brasileiro era o que estava na Europa. Logo...

Então, tudo isso: Robinho, Ronaldinho, os jogadores ‘europeus’, era o ótimo, era o indispensável, era o que precisávamos. Em seu nome, sequer pensou-se no bom, que poderia ter sido a formação de uma seleção exclusivamente com jogadores atuando no Brasil, disponíveis, portanto, para treinamentos mais constantes, claro que às custas dos pobres clubes brasileiros. Mas esses não contam, ora, pílulas! Então, para que dar-lhes atenção e importância? Era só convocar, treinar e jogar, uma, duas, três, cinco, dez vezes.

Faltou um projeto olímpico, detalhe – pequeno – apontado por Carlos Alberto Parreira, o rei da obviedade, o mestre-engenheiro das obras prontas, que dirigiu o naufrágio de 2006 e agora critica as ações que levaram a ele. Deve ter esquecido que o comandante do navio naufragado era ele mesmo.

Planejamento e projeto olímpico: nada disso existiu.

Catou-se os jogadores disponíveis e foi todo mundo pra China.

Deu no que deu.

Pra quem é, como é, tá bom demais.

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terça-feira, agosto 19, 2008

Receitas européias, salários tupiniquins


Na semana passada, em Tel Aviv, José María del Nido, presidente do Sevilla, acompanhado por dois de seus diretores, assinou a renovação do contrato de patrocínio do clube com a 888.com por três temporadas, até 2011. A multinacional israelense, cuja principal atividade é a realização de jogos de pôquer e apostas diversas, inclusive futebol, é chamada por torcedores sevillanos de ‘cassino on line’ e patrocina o time desde a temporada 2006/2007.

Foi um patrocínio comemorado efusivamente pelo campeão da Copa da UEFA e, teoricamente, terceiro melhor time da Espanha, dona de uma das ‘ligas’ mais importantes e rentáveis do mundo, ao lado da inglesa, alemã e italiana. Embora os valores não tenham sido revelados oficialmente, fontes diversas asseguram que ele é de 4 a 5 milhões de euros, perdendo apenas para os 6 milhões de patrocínio do Valencia e os 15 milhões de euros que a Bwin, outro cassino on line, paga ao Real Madrid por temporada.

Vejam, agora, essa tabela abaixo:

Clube

Patrocinador

Valor M Euros

Valor M Reais

Real Madrid

Bwin

15

36,3

Sevilla

888.com

4 a 5

9,7 a 12

Valencia

6

14,5

Corinthians

Medial

6,8

16,5

Flamengo

Petrobras

6,7

16,2

São Paulo

LG

6,6

16

Palmeiras

Fiat

3,5

8,5

Os três maiores patrocínios brasileiros são superiores a dois dos três maiores patrocínios espanhóis – lembrando que o Barcelona não aceita patrocínio. Nesse momento, os bastidores do Morumbi abrigam as negociações envolvendo o patrocínio do São Paulo para 2009. Julio Casares, diretor de marketing, disse esperar pelo menos 32 milhões de reais, nada menos que pouco mais de 13 milhões de euros, um valor, se concretizado, pouca coisa inferior ao do Real Madrid. Este Olhar Crônico Esportivo, desde setembro de 2007, acredita em um número mais próximo dos 25 milhões de reais – pouco mais de 10 milhões de euros, mas diante das movimentações do mercado tampouco desacredita de um número mais próximo do valor desejado por Casares, digamos, 30 milhões de reais, ou pouco mais de um milhão de euros mensais para estampar o nome na camisa do São Paulo. Com a má campanha do time no Brasileiro, o mais provável é que o novo contrato, com a LG ou outra empresa, seja fechado mais perto do final do ano, quando ficar claro que o São Paulo, ao menos, terá vaga assegurada na próxima Libertadores.

O novo patrocínio tricolor vai agitar bastante o mercado e sinalizará novos valores para Flamengo e Corinthians, como já aconteceu com a renovação da Reebok.

Dessa forma, os três clubes com maiores torcidas no país passarão a ter patrocínios de camisa com valores próximos ou não muito distantes do que é pago ao Real Madrid.

E daí, deve estar se perguntando você, o que isso significa trocando em miúdos?

Eis uma boa questão.

Para que um patrocinador paga para pôr seu nome na camisa de um clube?

Para mostrar sua marca ou seu produto para milhões de torcedores daquele time e de outros.

Por que uma empresa pagaria tanto dinheiro por isso?

Porque esses clubes oferecem boa visibilidade e, geralmente, disputam títulos ou fazem boas campanhas, o que aumenta ainda mais sua visibilidade.

Por que isso acontece?

Porque, de maneira geral, são clubes que montam boas equipes, contratam bons jogadores e...

Epaaaaaaaaaaaa!

Você pirou? Releia o que você escreveu, Senhor Blogueiro!

Hummmmmmmmm...

É, prezado leitor, você está certo em estrilar, acho que dei ‘uma viajada’ nessa.

“...montam boas equipes, contratam bons jogadores..”

Nada disso, ou muito pouco, vemos nesses times e em outros mais, na verdade, em todos os outros.

Sistematicamente, janela após janela, os clubes perdem seus melhores e mais promissores jogadores. São desmontados e precisam ser remontados no decorrer das competições. Os atletas vão embora atraídos por salários e luvas muito acima do que podem sonhar receber no Brasil. Muita gente reclama, muitas das reclamações são dirigidas, velho hábito tupiniquim, ao governo, que deveria, no entender desses críticos, baixar uma lei proibindo a saída de jogadores e coisas parecidas, medievais, injustas, ultrapassadas, em rota de colisão fatal com a postura de liberdade nas relações de trabalho que vigoram na maior parte do mundo. Lei que nada resolveria, evidentemente, pois não há lei capaz de separar um homem da busca de maior salário e melhor trabalho.

Ué, se os caras vão embora por causa do dinheiro...

Não só o dinheiro, não só.

... tá certo, não só o dinheiro, mas principalmente o dinheiro, né? Por que, então, os clubes não pagam salários maiores e seguram todos os jogadores aqui mesmo? Por que os clubes não mantêm boas equipes, ganhando mais jogos, jogando mais bonito, atraindo mais públicos, novos públicos, ganhando, assim, mais dinheiro, num círculo virtuoso?

Eis uma boa pergunta com respostas diversas, a maioria das quais, infelizmente, só sabemos depois de muito tempo. A primeira e maior resposta, sem a menor dúvida, chama-se descalabro administrativo. É o que provocou, sendo generoso e não apontando os dedos para ninguém, as grandes dívidas dos clubes brasileiros. Puro descalabro administrativo, acompanhado por gestões fraudulentas, em alguns casos, talvez em todos.

Nossos clubes reclamam da falta permanente, eterna, de dinheiro.

Os balanços são de chorar, mesmo o melhor deles, o do São Paulo.

Por sinal, talvez seja justamente o do São Paulo o que mais dá um certo desânimo, pois se com os números que o clube apresenta ainda é obrigado a vender jogadores para fechar as contas, é sinal que a coisa é feia.

Em meio a esse quadro descobre-se que nossos patrocínios de camisa estão longe de ser ruins, pelo contrário, até.

O crescimento, enfim, da economia brasileira, a estabilidade cambial, a valorização do real, o aumento na massa de consumidores, traduzido pelo crescimento do que se convencionou chamar de classe média, tudo isso combinou para dar uma nova cara ao mercado, e que estará se consolidando em 2009, ano em que os direitos de TV entram de uma vez por todas na ‘maioridade’, com números de 1º Mundo, associados, em alguns clubes, a grandes valores de patrocínio.

Em tese, o melhor dos mundos. Todavia, alguém acredita que deixaremos de perder jogadores para Grécia, Turquia, Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Oriente Médio?

Um novo Diogo trocará a Portuguesa pelo Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras ou Grêmio ou Internacional? Ou um novo Diogo também irá para a Grécia?

Por que ainda não conseguimos segurar nossos jogadores com salários de respeito, em padrão europeu? Já temos receitas européias, mas continuamos pagando salários tupiniquins.

Deixo aberta a conclusão, mas, de bate-pronto, enxergo duas áreas em que somos pequenos, somos 3º Mundo: rendas de jogos e licenciamento. Ou, como se pretende dizer no moderno português de Pindorama, matchday e licensing.

Receita de jogo ainda é bilheteria, como os velhos e pequenos circos que iam de cidade em cidade faturando uns trocados para sobreviver.

Licensing ainda é algo que é burlado pelo mercado informal de forma rápida e criativa.

Segue em outro bat-post nesse mesmo bat-blog em algum outro bat-dia, digo, bat-day.

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